domingo, 24 de setembro de 2017

Seguimos resistindo

Eu conversava com Ícaro no intervalo do almoço, quando meu sobrinho enviou os áudios. Ícaro é meu amigo dos tempos de mestrado, em Viçosa. Em 2010, teve sua dissertação de mestrado sobre o quilombo de Santo Antônio dos Pinheiros Altos premiada pelo Ministério da Cultura. A mensagem do meu sobrinho dizia: "Tia, Delartovi lançou! Legal demais, viu?" E enviou seis áudios com as músicas do novo trabalho do rapper de Nova Lima. "Nuuuuu, loko!" Impactado, Joel procurava palavras para adjetivar o trabalho recém-lançado. Eu já tinha escutado. Escutei cedinho antes de sair para dar aulas, pois não consegui ficar acordada até o lançamento que aconteceu no começo da madrugada de terça-feira. O álbum chama-se Emmet Louis Till e é uma homenagem ao garoto que há 62 anos, no dia 28 de agosto de 1955, foi assassinado acusado de um crime que não cometeu. Era um menino negro de Chicago, de férias na cidade branca do Mississípi. Só o título já é motivo suficiente para ouvir o novo disco. Me despedi de Ícaro, não sem antes ele anotar o nome do rapper para ouvir depois. Segui para a aula de Mãe Conceição, no curso "Catar folhas: saberes e fazeres do povo de axé". Lá, ouvi a história do quilombo urbano "Manzo Nguzo Kaiango" e sua resistência ao longo dos anos a todo tipo de violência, inclusive do Estado. A comunidade já foi expulsa do seu território e teve seu espaço sagrado violado. Mas seguem lutando. Mãe Conceição lançará livro, em breve, contando a história do seu terreiro. Depois da aula, segui com Mariza para o evento, "A resistência das mulheres negras na produção literária", com as escritoras Cidinha da Silva, Jussara Santos e Madú Costa. Mesa, lindamente, mediada por Luana Tolentino. Etiene Martins, da livraria Bantu, estava lá com os livros da Mazza. Depois da mesa aconteceria o show "Anganga" da Juçara Marçal, mas não tinha mais ingresso. Ainda ficamos por ali um tempinho, circulando entre aqueles blacks, crespos e dreads lindos. Voltei pra casa ainda mais convencida que, apesar do mundo lá fora explodir em bombas e golpes de toda natureza, o povo preto segue resistindo, como sempre fez. 

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