domingo, 24 de setembro de 2017

É canja

A mãe, ansiosa, esperava na porta do barraco, quando avistou o filho. Uma pequena cruz presa por um fio fino, pendia sobre a camiseta branca, provavelmente presente de algum religioso. Correu ao seu encontro apertando seu braço, mais fino do que quando foi preso. Se abraçaram e choraram, depois começaram a rir juntos. Ela notou dentes a menos na boca do filho. Deve ser a tuberculose que ele contraiu na cadeia, pensou. Ele entregou para a mãe um envelope pardo com os medicamentos que a médica do sanatório penal providenciou antes dele sair da prisão. 
- Que cheiro bom é esse, mãe?
- É canja de galinha. Comprei na oferta do mercadinho aqui, na Vila Cruzeiro. Ontem, consegui muitas latinhas. Você precisa ficar bom logo, para me ajudar a catar, viu?
O advogado desviou o olhar de mãe e filho, olhando pela janela do barraco e engoliu o choro.

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