domingo, 24 de setembro de 2017

Bate no que você parir, desgraçado!

O barulho da comida na boca do filho a acalentava. 
- Que delícia comer sua comida, de novo, mãe! Você não faz ideia de como a da prisão é ruim.
- Eu caprichei, meu filho. É tão bom ter você em casa, novamente. O que fiz esse tempo todo foi só chorar. Tristeza demais filho da gente, que não é bandido, ser condenado como traficante. Enquanto observava o filho, ela pensava se tinha tomado a decisão correta quando decidiu sair de Aracajú e vir para a periferia da cidade grande. Mas fazer o que lá? Ela sem estudo, o que sabia fazer é revirar lixo, catando latinha e peças usadas. Aprendeu com a mãe e passou o ofício para o filho que vendia o material reciclado na Praça XV. Três gerações de catadores. Sentiu um nó na garganta ao lembrar da fome que não a deixava dormir e que se agravava a cada vez que sentia o cheiro do café sendo coado na casa da vizinha. Fome não é coisa nem pra bicho passar, muito menos pra gente, é de mexer com a bile de qualquer um. Mas, o filho não era bandido. Foi preso no meio de uma confusão de gente em 2013, sem nem saber o que era protesto, muito menos coquetel molotov. Quando lembrava que os gambé, filhos da puta, tinham batido no filho, ela recordava a mãe com o corpo pesado lhe protegendo dos socos do padrasto e gritando com a voz grave e rouca:
- Ocê vai bater no que ocê parir, desgraçado!

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