sexta-feira, 31 de março de 2017

Terceirização

Eu trabalho desde os 14 anos. Há 33 anos assinei minha carteira de trabalho pela primeira vez. Antes disso, trabalhei muito em situação precária, como doméstica e balconista, mas sem carteira assinada. Depois fui, por anos, telefonista terceirizada na Telemig. Conap, Conset, Setesp, Têmporis foram algumas das empresas que me contrataram. A cada 3 meses tinha o contrato rescindido e era contratada por outra. Fiquei anos sem férias, vivendo a angústia se renovariam o contrato ou não. Depois, já com curso superior fui ser professora designada na rede pública estadual, também sem benefício nenhum. No mestrado fui professora substituta numa época que o salário era cerca de 300 reais. Com o término do doutorado, há cerca de 1 ano, me preparo para um concurso que pode não acontecer mais. Estou como a mulher do conto da Adélia, "tou com medo de apanhar tristeza, encardir de melancolia. Sei que sofrimento neste mundo é fazenda de todos. Mas tendo Justiça, meu Deus, ao menos miséria some, ao menos ninguém vai ter susto de ser preso à toa, de apanhar sem poder dizer essa boca é minha, explicar, de pé feito um homem, se tem culpa ou não." Mas cadê justiça? Como a narradora do conto, eu não sei o que fazer, nem como ajudar. A impotência toma conta de mim. Como no conto, tô me sentido como a galinha na chuva. Aquele passo bobo, aquele pescoço esticado pra frente, olha aqui, olha acolá, encharcada na friagem e na lama, sem resolver nada e, pior que tudo, sem saber de nada. Há 36 anos no mercado de trabalho e sem perspectivas de melhorar...Fazemos o quê, gente? Além de reclamar no facebook...

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