domingo, 12 de março de 2017

Lanche

Eu tenho uma foto 3x4 da época que me mudei para Belo Horizonte. Está na minha carteira de trabalho, o primeiro documento que tirei. Todo mundo que vê a foto ri e comenta que eu melhorei com a idade. A pele, muito mais curtida pelo sol e o cabelo preso dos lados por dois grampos, recurso de quem não tinha dinheiro para comprar shampoo, nem frequentar salão de beleza. A franjinha eu mesma cortei. Agora, imaginem uma franjinha em cabelo crespo como o meu. Minha irmã tinha conseguido um emprego de escriturária e trabalhava numa seguradora. Inteligente que só, ela tinha feito datilografia, o que lhe garantiu o passaporte para um emprego melhor. Ela trabalhava ao lado do Edifício Acaiaca na avenida Afonso Pena, com rua Espírito Santo. Ali, funcionava o "Lanches Acaiaca" e eu sonhava em lanchar lá. Mas sabe como é, né? Pobre tem cara de pobre. Falei pra minha irmã do meu desejo e ela me disse: "Espere até comprarmos roupas novas". Achávamos que era necessário estarmos bem vestidas para entrar numa lanchonete, no centro de Belo Horizonte. O dia chegou. Lembro que a roupa foi costurada por mamãe, uma camisa xadrezinho de gola e manga. Minha irmã me levou e eu comi hambúrguer pela primeira vez na minha vida. Eu tinha 14 anos. 1 ano a mais que o João Victor, que morreu com um soco por estar pedindo comida em frente ao Habib's.

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