sexta-feira, 3 de março de 2017

Mas é carnaval...

Os últimos dez anos da minha vida foram para criar filho e estudar. Em 2007, iniciava o mestrado, em Viçosa. O menino com quatro anos. Nossos caquinhos seguiram em um caminhão de mudanças pago pelo amigo, Samuel. Ficamos quatro anos por lá e fomos muito, muito felizes. Fizemos amigos que seguem conosco até hoje.
Em 2010, tivemos que exercitar o desapego e nossos caquinhos foram vendidos para um topa-tudo: as bikes, a geladeira paga em dez prestações, comprada no cartão da Waleskinha, a estante linda, caríssima (onde eu estava com a cabeça, quando comprei?). Só carreguei os livros que hoje estão na casa da Mariza, esperando pacientemente, eu ter um cantinho pra eles.
Em janeiro de 2011, depois de nos desfazermos de nossas "posses", arrastamos nossas duas malas, ladeira acima, para morar numa kitinet, ao lado da UFSC, no bairro Carvoeira, em Florianópolis, onde fui fazer o doutorado. Por lá, também fizemos amigos preciosos.
Há cerca de um ano defendi a tese. A banca foi a mais generosa que alguém pode ter. O amigo, Davi Ochoa fez o cafezinho que a amiga Gabina serviu, junto com o bolo de banana e granola que a Bianca preparou. Defender uma tese é libertar-se de uma espada constantemente apontada para a sua cabeça.
Hoje, uma ano depois de, como a personagem de Clarice, ter comido minha barata, a vida segue tomando outros rumos. O menino crescido (não é mais uma criança, mas ainda não é um rapaz) começa a dar seus rolês sozinho. E eu, de cá, experimento uma liberdade que há muito tempo não me permitia.
"João, vou tomar umas cachaças com a Luia e a Mariza no baixo Belô", eu disse pra ele, ontem. 
Ele, que estava do outro lado da cidade com os amigos, respondeu:
"Tudo bem, mãe! Aproveita o rolê! Só toma cuidado para não dar "pt" (perda total: termo usado para designar o estado de uma pessoa extremamente alcoolizada, quase inconsciente. Tive que dar uma 'googleada' para aprender sobre a nova gíria ).
E fui, depois de anos, experienciar o carnaval de BH.
Gostei!
Uma multidão nas ruas, saindo de todos os lados. Gente de todas as idades, pais e mães com seus filhos. A população ocupando o espaço público, como deve ser. Muitos carregando a própria bebida em sacolas, carrinhos de supermercado, das formas mais diversas possíveis. Nem a chuva que caiu sobre os foliões esfriou a animação. Foram cerca de 4 horas atrás do carrinho de som que tocou de Caetano a Gera Samba. Um refresco nestes tempos brutos.
Festar é também resistir. Meus ancestrais sabiam bem disso. A história das irmandades do Rosário estão recheadas de exemplos. Quantas vezes ao negro foi proibido tocar seu tambor?
Por isso, hoje eu vou pra rua novamente, me juntar aos meus e resistir. Como dizia Jean Duvignaud, um estudioso das festas, entender esse movimento só é possível se se “ingressar no lance, ainda que grotescamente, com o nosso reles arrastar de pés e nossos corpos contraídos".
Bora, então!

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