O menino está crescendo. É tão fascinante ver o crescimento dele. Me assusto, diariamente, não só com as transformações físicas, como também com o amadurecimento emocional. João é um menino tranquilo, na dele. Construímos uma relação, desde sempre, baseada em muita conversa. Temos muitas discussões, muitas mesmo. Às vezes o tempo fecha. Eu, como Soares que sou, falo alto, arregalo os olhos num jeito agressivo que parece que estamos brigando, mas não é briga, não. Quando ele era pequenininho, lá pelos 6 ou 7 anos, depois de uma briga, eu li pra ele, o poema "Mater dolorosa", da Adélia:
"Este puxa-puxa
tá com gosto de coco.
A senhora pôs coco, mãe?
— Que coco nada.
— Teve festa quando a senhora casou?
— Teve. Demais.
— O que que teve então?
— Nada não menina, casou e pronto.
— Só isso.
— Só e chega.
Uma vez fizemos piquenique,
ela fez bolas de carne
pra gente comer com pão.
Lembro a volta do rio
e nós na areia.
Era domingo,
ela estava sem fadiga
e me respondia com doçura.
Se for isso o céu,
está perfeito."
tá com gosto de coco.
A senhora pôs coco, mãe?
— Que coco nada.
— Teve festa quando a senhora casou?
— Teve. Demais.
— O que que teve então?
— Nada não menina, casou e pronto.
— Só isso.
— Só e chega.
Uma vez fizemos piquenique,
ela fez bolas de carne
pra gente comer com pão.
Lembro a volta do rio
e nós na areia.
Era domingo,
ela estava sem fadiga
e me respondia com doçura.
Se for isso o céu,
está perfeito."
Pensava na minha mãe e nas vezes que ela respondi
a com doçura. Falei pra ele que gostaria de responder sempre com doçura, mas que às vezes, a fadiga é tanta que não dá. Ele nunca mais esqueceu. Desde então, sempre que levanto a voz, ele diz: "Mãe, por que essa agressividade, cadê a doçura?". Daí, eu paro e me recomponho. Neste novo tempo que agora fico entre BH e Baldim, estamos, os dois, aprendendo. Eu, o desapego; ele, a autonomia. Na vinda pra cá, quando deixei uma grana com ele porque ficaria quase 10 dias fora, ele se emocionou. Pegou o dinheiro e disse: "Nossa, ter que ir ao supermercado comprar minha própria comida me dá tanta autonomia. Tô me sentindo um adulto." [Comprou um monte de porcaria, que eu sei!]. Dia desses, almoçávamos com uma amiga e eu insistia para que ele colocasse mais verdura no prato. Na primeira oportunidade que teve, disse: "Mãe, vou completar 15 anos, já estou mais autônomo, por isso queria te pedir que nos rolês você não ficasse me dizendo o que fazer, pode ser?Também não gostaria de ouvir de você, tipo,' Ah é? Já é autônomo? Se fode aí, então!"... Eu me calei e refleti. Lembrei do Affonso Romano com o texto, "Antes que eles cresçam". De repente, elxs falam uma coisa de tal maturidade que você olha pro lado e a ficha cai: cresceu! Graças às deusas eu não tenho do que me arrepender. Vivi cada fase desse menino, cada sufoco e cada delícia. Na sexta-feira ele veio passar o final de semana comigo, em BH [passar comigo é modo de dizer, pois ele tinha um 'esquema'], e antes de vir, me mandou mensagem perguntando sobre a arrumação da casa. Eu disse a ele pra trazer a blusa de uniforme da escola para eu lavar e ele respondeu: "Já lavei, mãe. Também já dei banho na Fridinha". Ontem, enquanto estávamos no ponto do ônibus para ele voltar pra Baldim, eu olhei aquele rapaz de mais de 1,80m e pensei como eu conseguia andar de ônibus com ele [que sempre foi enorme], carregando além dele, minha mochila e a bolsa com suas coisinhas. Enquanto subíamos o morrinho aqui da rua, que tenho que colocar "primeira" para dar conta, ele me puxava pela mão e eu dizia: "Paciência, meu filho, não consigo acompanhar o seu pique, não. Eu tenho 50 anos." Este semestre, só nos encontraremos nos finais de semana, mas eu sei que ainda assim, estaremos juntão. Sei também, que cada elogio que faço a ele é no fundo, um autoelogio. Mas é que me acho foda mesmo. Ser mãe solo é pedreira, mas vê-lo assim, amadurecendo, desenvolvendo sua autonomia, não tem preço [desculpa aí, o clichê].
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