domingo, 12 de março de 2017

Feminismo

Mamãe não conseguia falar obstáculo, falava "bistaque". Com ela aprendi que quando você coloca "bistaque" nas coisas é porque no fundo, no fundo, não quer aquilo. Ela dizia que é preciso desejar muito, muito mesmo, para não desanimar diante dos "bistaque", porque eles sempre aparecem.
Mamãe não conseguia falar ódio. Falava "óido", como o Lula. "Que "óido" eu tenho de homem ruim. Mulher não precisa de depender de homem não, minha filha. Olhe pra mim, nunca precisei."
Um dia, nesta mesma mesa que agora escrevo, enquanto tomávamos café, ela me contou que no começo do casamento, ela e papai picavam lenha em terra dos outros. Recebiam por metro quadrado picado. Papai sempre ficava com o dinheiro. Ela então, resolveu observar quanto cada um picava e descobriu que picava o mesmo tanto que ele. Exigiu seu dinheiro. "Comecei a me separar dele naquele dia", ela me disse.
Mamãe, a primeira feminista que conheci!

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