sexta-feira, 31 de março de 2017

Esperança

Ontem, eu acordei pra baixo. Na noite anterior, depois de uma aula maravilhosa com uma turma incrível, a notícia da aprovação do PL da terceirização me derrubou. À noite, fui dar aula desanimada, coisa que rarissimamente acontece. Até xs alunxs que me conheceram há pouquíssimo tempo, perceberam a ausência do entusiasmo que eu tinha apresentado um dia antes. Mas uma esperança pousou ao meu lado. Não a concreta, o bichinho verde; a abstrata. 24 anos, mãe de dois filhos, trabalhadora desde os 16, bolsista por renda, escola pública e raça/etnia e também da FUMP - Fundação Universitária Mendes Pimentel, pioneira em ações afirmativas na UFMG. Com os olhos marejados, ela disse: "Professora, eu estou nessa universidade há 5 anos e há 5 anos eu me emociono a cada dia que eu entro neste campus." Eu fiquei quietinha, sem mover nenhum músculo para não espantar a esperança. Comovida, me emocionei porque esse também é o meu sentimento cada vez que eu entro na universidade: "estou dando aulas na UFMG!" Eu penso sempre que atravesso a faixa de pedestres, em frente ao portão principal, e a mesma emoção do primeiro dia de aula, quando atravessei o campus a caminho da FAFICH, em março de 1991, me invade. Para muitxs de nós, frequentar a universidade, seja como alunxs ou professorxs, é também um gesto simbólico poderosíssimo. E eu penso, que nestes anos que pretxs, pobres, indígenas ingressaram no curso superior, alguma coisa muito forte aconteceu e nenhum golpe vai conseguir barrar isso não. Facilitemos o caminho da esperança.

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