sexta-feira, 29 de abril de 2016

Transformar o luto em luta


Ontem fui dormir arrasada. Um misto de frustração, tristeza e impotência com a situação política no país. Hoje, li uma entrevista com a Pilar del Río, que saiu na revista TPM. Ri e chorei com o texto sensível da Luiza Sahd. Pilar é uma mulher incrível. Tive oportunidade de lhe dar um abraço, quando morei em Lisboa. Foi na primeira vez que fui à Fundação José Saramago. Quando subi as escadas lendo as frases dos livros de Saramago, já tive que engolir o choro, Quando estava na livraria, ouvi uma voz feminina, falando em espanhol e imaginei ser a Pilar. Dito e feito. Não resisti. Fui até ela e com a voz embargada falei da minha admiração por Saramago e da inveja que sentia dela. Como ela mesmo disse na entrevista, na TPM, "tem gente que passa a vida inteira estudando um único livro de um único autor", ela teve "a oportunidade de viver com o autor!" Quando pedi se podia tirar uma foto, ela disse:"vamos ficar ali, perto dos livros dele". E pousou a mão em meu ombro. Mas, o que espantou o meu baixo astral enquanto lia a entrevista, foi quando Pilar falou a respeito da morte de Saramago. Luiza, perguntou: "Mudou muito depois que Saramago partiu? Ficou um buraco na sua rotina?" Pilar respondeu: "Nada. De novo, lamento desmistificar tudo isso. Fizemos o luto juntos. José sabia que estava morrendo e fomos nos acostumando à ideia de viver separados, falamos sobre o destino das cinzas. Ponto final. Ele ia morrer e eu viveria o tempo que fosse, sem desabar. E, olha, estou em pé, cumprindo o meu compromisso com o legado dele." Luiza insiste: "E a Pilar, como continua, com esse marido onipresente e os relógios da casa parados às 16h [horários que Pilar e Saramago se conheceram]?" Olha, não sou uma viúva desolada de jeito nenhum. Não sou viúva, nem muito menos desolada. Não choro pelos cantos, tenho meus amigos e, quando me visto de preto, é porque gosto de roupa preta. Não estou de luto, nem de corpo, nem de alma.(...)" Penso que é isso. Aconteça o que acontecer, precisamos seguir firmes, de pé e lutando. Nada de ficar chorando pelos cantos. É transformar o luto em luta.
A entrevista está disponível aqui: http://revistatrip.uol.com.br/tpm/entrevista-pilar-del-rio-esposa-jose-saramago



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