quarta-feira, 27 de abril de 2016

Sem limites

Hoje é dia da empregada doméstica. Venho de uma família de 10 irmãos. 7 mulheres, 3 homens. Todas nós, as 7 irmãs, fomos empregadas domésticas. Minha mãe também foi empregada doméstica, mas era daquelas que as patroas não gostam, "sem limites". Ainda novinha, aos 13 ou 14 anos, abandonou o trabalho quando recebeu das mãos da patroa um prato de comida azeda. Feito Scarlet Ohara, Dona Dulce jurou naquele dia, que nunca mais teria patrões. Virou empreendedora. Quem, senão alguém com um espírito muito empreendedor, colocaria os filhos na porta de um vestiário, em dia de jogo de futebol, para vender Q-suco gelado? Foi assim que criou os filhos, mas nos criou "sem limites". Não aceitamos o lugar subalterno que nos quiseram impor, nos rebelamos, perdemos o limite. Na última década, os pobres "perderam o limite", invadiram shopping, aeroportos e universidades. Isso exacerbou um ódio de classes que sempre existiu. Há cerca de 1 ano foi aprovada a Pec das domésticas que estende às trabalhadoras alguns direitos há muito conquistados por outras categorias. Agora, à beira do precipício, vemos tudo isso ameaçado. O sentimento que me invade é um misto de frustração, tristeza e impotência. Mas deixo aqui, um viva às trabalhadoras domésticas, mulheres que com suas mãos, liberam as mãos de outras, para fazerem a revolução.

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