domingo, 24 de abril de 2016

Niver do menino

Foto de Dalva Maria Soares.
Foto de Dalva Maria Soares.
Foto de Dalva Maria Soares.
Foto de Dalva Maria Soares.
Textão de aniversário

Era 21 de abril de 2002. Completavam-se exatas 40 semanas, desde o dia 29 de julho, um domingo à tarde, quando você foi gerado. Lembro que imitei a filha de Antônia no filme “A excêntrica família de Antônia” e fiquei com as pernas para cima para ajudar os espermatozoides. Dito e feito! Na única tentativa, engravidei. O resultado do exame de sangue comprovava; "maior que 1000,0 mUI/mL. Você já era desejado há algum tempo, depois d'eu ter consigo, com muita terapia, desconstruir um discurso de uma vida inteira de que não queria ser mãe. Enfim, acontecera! A bolsa rebentou logo cedinho, mas você só nasceu, às 18:32h, de uma cesárea difícil. Justo eu, que me preparei durante meses para o parto natural. Não consegui! A dilatação foi insuficiente e quando, naquela tarde de domingo, há poucos km dali, no estádio Independência, os fogos anunciavam gol no jogo Atlético X Cruzeiro; na maternidade Santa Fé, eu ouvia o seu choro pela primeira vez. 51 cm, 3.770kg. Não é de surpreender estar medindo quase 1.80m e calçando 43. Quando você pousou os olhinhos em mim, eu só sabia repetir: que menino lindo! Que menino lindo! Quantas vezes encenamos esse gesto? Enquanto você coube no meu colo. Agora você não paga mais esse mico. Fiquei hiper, mega, super insegura. Não queria voltar pra casa. Tinha medo de não saber cuidar de você. Quando você chorava, eu desesperava: Será fome? Calor? Frio? Só consegui dar banho em você, semanas depois. Seu pai é quem cuidava, foi ele quem curou o seu umbigo. Depois, ficamos só nós dois e aí não teve jeito. Era uma aventura ir ao sacolão e ao supermercado. Era longe, dava trabalho, cansava. Na volta, eu deixava o carrinho de bebê com as compras, subia 4 lances de escada, deixava você no berço e corria para buscar as coisas, morrendo de medo que nesse tempo acontecesse algum imprevisto com você. Banho sossegada? Esquece! Prendia você no carrinho, que ficava dentro do banheiro, enquanto tomava banho para ir para o trabalho. À medida que você ia crescendo, conseguia se soltar, e às seis horas da manhã, se enfiava de roupa e tudo embaixo do chuveiro, junto comigo, sempre morrendo de rir. Voltar a estudar, com você ainda pequeno e receber bolsa, me permitiu cuidar de você. Quando você tinha 4 anos, mudamos para Viçosa para eu fazer o mestrado. Foi lá que você aprendeu a nadar, a andar de bicicleta, a se equilibrar em cima do skate, a jogar bola. Depois fomos para Florianópolis, desta vez para o doutorado. Lá você começou a ficar sozinho, aprendeu a se virar, fazer pipoca, miojo, a enfrentar o medo e a insegurança e a andar de ônibus sozinho. Lembra daquele dia, que voltando da casa do Cauê, você achou que tinha perdido o último ônibus e começou a chorar no terminal do Rio Tavares? Em Floripa foram tempos de mar, de aprender a brincar nas ondas com a prancha. Depois veio Lisboa e um salto de autonomia. Ir sozinho para a escola, atravessar a cidade no Electrico 28. Lembra daquele dia que você não tinha créditos no cartão e por duas vezes, o fiscal que nunca entrava no bonde, mandou você descer e você foi a pé pra casa? Foi seguindo os trilhos do electrico, debaixo de chuva, com medo de se perder. Em Lisboa você aprendeu a fazer algumas manobras no skate. Ia sozinho para a praça da Figueira. Lembra a primeira vez que você foi e que eu te liguei 18 vezes? E você lá, de boa, com os trutas que depois lhe arrumaram rodas, shapes e parafusos. Você cresceu, João! 14 anos! 14 anos! Chegamos até aqui! Chegou o tempo dos amores e das paqueras. “Mãe, você sabe que eu estou namorando, né”? Eu, que pensava que ia surtar o dia que ouvisse isso, fiquei de boa. Só consegui dizer: “Filho, a primeira lição é: se uma mulher disser não, é não, viu?” Chegamos até aqui. Sempre com pouca grana, mas com muito, muito amor. A convivência com você é a experiência mais fascinante que vivi e vivo. Tenho muito, muito orgulho do ser humano que você está se tornando. Sua indignação com a injustiça social, o carinho e cuidado que você tem com as crianças e com os animais, o respeito pelos mais velhos. Quase morro de orgulho, quando hoje, você segura, com a sua mão enorme a minha, na hora de atravessar a rua. Ou, quando no supermercado, você leva as sacolas mais pesadas, ou ainda nos shows, quando você procura o melhor lugar para eu poder ver tudo direitinho. “Tá de boa aí, mãe”? E ouço no meu ouvido você gritando junto comigo o nome do ídolo comum. 14 anos! E a expectativa de vivermos juntos mais um montão de coisas. Ainda tem show do Racionais e do Emicida que não conseguimos ir, tem Cuba para conhecer. E eu, agradeço aos céus, todos os dias, a oportunidade de, diariamente, aprender com você.  Feliz aniversário, João Pedro! Vou ali, ao supermercado, comprar um leite condensado. Hoje é dia de brigadeiro na colher. Te amo!

Nenhum comentário:

Postar um comentário