domingo, 10 de abril de 2016

É a vida

Hoje mudei o itinerário da caminhada. Abandonei o caminho pedregoso do cerrado e fui para o asfalto. De vez em quando é preciso mudar, ver as coisas sob outra perspectiva. Fui caminhar na rua onde nasci. Não é rua grande. Passa em frente à igreja e termina sem saída. Nasci na casa de número 11, mas fui criada no número 25. O lote vago, ao lado, onde vovô plantava fumo e milho, agora é uma grande construção com várias salas. Uma delas é onde a banda - Corporação Musical Santa Cecília, ensaia. Duas ou três vezes por semana, da cozinha de casa, escuto trompetes e sax. O posto de saúde virou câmara dos vereadores. O quintal onde havia um enorme bambuzal, agora é um espaço de lazer dos velhinhos do "Lar da Boa Esperança". A casinha onde D. Isaura me ensinou a fazer crochê e onde suas filhas ensaiavam as pastorinhas, resiste espremida entre duas outras construções. Em lugar privilegiado na praça, fica a igreja, tantas vezes reformada. Acho que original mesmo, só as torres com os sinos e o alto-falante de onde se ouve, todos os dias, a hora do ângelus. Ou os avisos do Zé da Bilinha (notas de utilidade pública e de falecimento) ou ainda os cantos chamando pra missa aos domingos. O padroeiro, São Bernardo, impassível, observa tudo. A casa da esquina ainda possui a garagem onde ensaiávamos nossas peças de teatro. "Quem matou o fazendeiro?" Carreguei durante algum tempo a frustração de não ter conseguido um papel no teste de improviso. Acabei participando como figurante. As irmãs Rosali e Roseni escreviam, dirigiam e ensaiavam os "atores". Até cobrávamos entrada. A dona da casa emprestava um lençol que servia de cortina. Rosali, hoje é professora de português e literatura no colégio e realiza saraus com seus alunos.
Nos fones de ouvido emprestados do menino, Milton canta:
"E assim chegar e partir...
São só dois lados
Da mesma viagem
O trem que chega
É o mesmo trem
Da partida..."
Vim escrever a tese. Tese escrita e defendida, começa a crescer em mim, uma vontade de partir, novamente.
Milton continua:
"Tem gente que vem e quer voltar
Tem gente que vai, e quer ficar
Tem gente que veio só olhar
Tem gente a sorrir e a chorar...
E assim chegar e partir...
São só dois lados
Da mesma viagem
O trem que chega
É o mesmo trem
Da partida...
A hora do encontro
É também, despedida
A plataforma dessa estação
É a vida desse meu lugar
É a vida..."

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