domingo, 24 de abril de 2016

Choro e riso





Hoje meu irmão saiu chorando da mesa do café. Na verdade, choramos os dois. Mas eu sou chorona. O menino mesmo sempre diz quando vê alguma coisa que sabe que vai me emocionar: "Ih, cenas inadequadas para mães que choram à toa." Mas meu irmão, não. Ele é o irmão mais velho e eu o vi chorar pouquíssimas vezes, nem mesmo quando mamãe e papai morreram. Não que ele seja insensível, é machismo mesmo. Eu o vi chorar, há cerca de dois anos, quando li para ele os motivos pelos quais eu votaria em Dilma. Chorou de soluçar. Eu até fiquei com medo que ele passasse mal. Também o vi chorar quando o Lula, depois de ser conduzido coercitivamente, fez um pronunciamento na sede nacional do PT, em SP. É que a família quase toda é fã do Lula. A gente se vê nele. Em sua cara de pobre, sua fala de pobre e até, na sua alma de pobre, como disse o prefeito do RJ. Outro dia, na entrevista que Glenn Greenwald fez com ele, eu ouvi Lula dizendo "óidio". Isso mesmo: "óidio". "Óidio" de classe. Mamãe também não conseguia falar ódio, falava "óidio". Como preto e pobre dificilmente se vê representado, talvez seja esse um dos motivos do Lula ser tão popular. E hoje, enquanto conversávamos sobre a situação política do país, meu irmão chorou novamente. Envergonhado ele se levantou da mesa e saiu. Eu lembrei que as coisas nunca foram fáceis pra nós. Mas também lembrei do pé de tomate alemão que nasceu numa gretinha entre o passeio e a parede da casa. Meu irmão amarrou o pezinho que se esparramava pelo chão com um barbante e ele foi pra frente. Já até colhemos tomates. Não foram muitos, mas estão deliciosos. Na mesma situação e no mesmo lugar nasceu um pé de mamão que estamos cultivando. E na parede, vejam bem, em um buraquinho na parede, nasceu um pé de "mulata na sala" que já está até florida. Estas a gente cultiva com gosto, porque eram uma das preferidas da mamãe. Aliás, essas sementes que teimam em germinar pelo quintal, devem ser ainda da época de mamãe viva, cuidando das suas plantas. Eu fui até o meu irmão que estava na varanda e lembrei ele disso: aconteça o que acontecer, sempre fica uma brechinha onde uma sementinha adormecida espera condições de germinar. Meu irmão abriu um sorriso. E meu dia se iluminou novamente.

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