Hoje
meu irmão saiu chorando da mesa do café. Na verdade, choramos os dois.
Mas eu sou chorona. O menino mesmo sempre diz quando vê alguma coisa que
sabe que vai me emocionar: "Ih, cenas inadequadas para mães que choram à
toa." Mas meu irmão, não. Ele é o irmão mais velho e eu o vi chorar
pouquíssimas vezes, nem mesmo quando mamãe e papai morreram. Não que ele
seja insensível, é machismo mesmo. Eu o
vi chorar, há cerca de dois anos, quando li para ele os motivos pelos
quais eu votaria em Dilma. Chorou de soluçar. Eu até fiquei com medo que
ele passasse mal. Também o vi chorar quando o Lula, depois de ser
conduzido coercitivamente, fez um pronunciamento na sede nacional do PT,
em SP. É que a família quase toda é fã do Lula. A gente se vê nele. Em
sua cara de pobre, sua fala de pobre e até, na sua alma de pobre, como
disse o prefeito do RJ. Outro dia, na entrevista que Glenn Greenwald fez
com ele, eu ouvi Lula dizendo "óidio". Isso mesmo: "óidio". "Óidio" de
classe. Mamãe também não conseguia falar ódio, falava "óidio". Como
preto e pobre dificilmente se vê representado, talvez seja esse um dos
motivos do Lula ser tão popular. E hoje, enquanto conversávamos sobre a
situação política do país, meu irmão chorou novamente. Envergonhado ele
se levantou da mesa e saiu. Eu lembrei que as coisas nunca foram fáceis
pra nós. Mas também lembrei do pé de tomate alemão que nasceu numa
gretinha entre o passeio e a parede da casa. Meu irmão amarrou o pezinho
que se esparramava pelo chão com um barbante e ele foi pra frente. Já
até colhemos tomates. Não foram muitos, mas estão deliciosos. Na mesma
situação e no mesmo lugar nasceu um pé de mamão que estamos cultivando. E
na parede, vejam bem, em um buraquinho na parede, nasceu um pé de
"mulata na sala" que já está até florida. Estas a gente cultiva com
gosto, porque eram uma das preferidas da mamãe. Aliás, essas sementes
que teimam em germinar pelo quintal, devem ser ainda da época de mamãe
viva, cuidando das suas plantas. Eu fui até o meu irmão que estava na
varanda e lembrei ele disso: aconteça o que acontecer, sempre fica uma
brechinha onde uma sementinha adormecida espera condições de germinar.
Meu irmão abriu um sorriso. E meu dia se iluminou novamente.
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domingo, 24 de abril de 2016
Choro e riso
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