domingo, 10 de abril de 2016

Todo mundo tem a sua hora

Daqui a 10 dias o menino completa 14 anos. 14 anos! Fico pensado o que foi a nossa vida nesse tempo. Todo ano quando se aproxima o aniversário dele é assim. Fico refletindo sobre os acontecimentos desde que ele chegou. Quando ele nasceu, em 2002, eu tinha um emprego, um pequeno apartamento financiado pela Caixa Econômica e um relacionamento em crise, que acabou cerca de cinco meses depois. Em 2004 senti necessidades de mudança e aluguei uma casa com quintal, pé de manga, jabuticaba e jardim. Fui então, demitida do trabalho. O acerto na empresa me possibilitou pagar as contas por alguns meses. Resolvi voltar a estudar. Fui fazer uma especialização. Quando o dinheiro acabou, transferi o financiamento do apartamento e fui correr atrás de trabalho. Virei educadora infantil na prefeitura de BH e professora temporária na prefeitura de Contagem. Mudei da casa com quintal para uma quitinete para reduzir os gastos. Nesse meio tempo, fui chamada para substituir uma professora na Puc Minas. Me convenci que a sala de aula era o meu lugar. Decidi fazer o mestrado e em janeiro de 2007, mudamos para Viçosa. Lá, fui professora substituta na UFV e dei aulas numa faculdade particular. Éramos felizes, vida tranquila, passeios de bike no campus, o menino estudava em uma boa escola. Decidir fazer o doutorado, desta vez em Florianópolis. Em 2010, desfizemos das nossas coisas: as bikes, o guarda-roupas de pátina (meu xodó), a estante linda dos meus livros, o fogão e a geladeira seminovos. Lá fomos nós para o sul, morrendo de medo do frio. Em Floripa, mudamos três vezes de casa, o menino duas vezes de escola. Em 2013, voltamos para BH para fazer o trabalho de campo da pesquisa. Minha irmã nos acolheu. O menino foi viver a primeira experiência na escola pública. Surgiu então, a oportunidade de um estágio doutoral em Lisboa. Obrigação moral de aceitar. Fazer projeto, tirar passaporte, arrumar casa pra morar, aceite de orientador no exterior, aguardar bolsa, comprar passagens e em setembro de 2013, chegávamos em Lisboa. Vistos, agrupamento familiar, escola pro menino, seminários na Universidade. Nove mesmo se passaram voando e chegou a hora de voltar pra casa. Mas, onde mesmo era a casa? Optamos por Baldim, afinal um décimo dessa casa que foi de mamãe e uma pequena tira desse quintal são meus também. O desafio agora era escrever a tese. Tese escrita, defendida, elogiada. Cá estamos, estudando para concurso, correndo atrás de trabalho. Quando o astral baixa, o menino me consola: "não esquenta mãe, não temos dinheiro, mas temos cultura." Olho pela janela e vejo o morro à minha frente, meu conhecido desde a infância, quando deitada no chão de cimento vermelho do alpendre da casa do vovô, lia meus livros. Era o capim meloso balançado pelo vento que me trazia de volta para a realidade quando a leitura de "O médico e o monstro" ficava tensa demais. Hoje, estou como a mãe de Miguilim: "sempre pensando que lá por detrás dele acontecem outras coisas, que o morro está tapando de mim, e que eu nunca hei de poder ver..." Aí, outro personagem de Guimarães Rosa vem e me consola. Augusto Matraga me lembra que todo mundo tem a sua hora e a sua vez, e que a minha há de chegar.

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