O menino chega da escola e me pega chorando.
- "O que foi, mãe? É por causa da Dilma?"
- É filho, é por causa da Dilma. Mas é também por mim, pelas mulheres,
por você e por milhões de pessoas". Minha irmã manda mensagem: "Dalva,
tô triste demais. Como reagir?" Eu, que chorei o dia todo não sei o que
dizer. É muito retrocesso. Enquanto o tanquinho bate as roupas, vou
limpar a casa. Arrasto os móveis, jogo a
água das roupas na casa, na varanda. Lembro da Clarice no seu conto
sobre a esperança. É preciso facilitar o caminho da esperança, limpar
tudo para que a aranha não coma o inseto. Enquanto limpo vou pensando em
como foi minha vida nos últimos anos. De como mudou no governo Lula e
Dilma. Entrei tardiamente na universidade num tempo que não tinha cotas,
se tivesse teria facilitado um monte minha vida. Consegui terminar o
curso graças a uma bolsa para alunos carentes da Fundação Universitária
Mendes Pimentel - FUMP. Aliás, dos 6 irmãos que fizeram UFMG, todos
foram bolsistas FUMP - carente I. Recebíamos 1 salário mínimo para
estudar e preço reduzido no bandejão, além de assistência psicológica e
odontológica. Depois de formada, quando arrumei um emprego, paguei cada
centavo na maior satisfação. Sonhava com o mestrado que foi ficando
distante por conta da luta pela sobrevivência. Só consegui voltar a
estudar em 2004, no governo Lula. Fiz especialização, mestrado e
doutorado com bolsa, sendo 9 meses em estágio doutoral sanduíche, em
Lisboa. Lá conheci mais 2 amigos também fazendo sanduíche. Uma amiga
fazia não o estágio, mas o doutorado todo na Universidade Nova de
Lisboa. Conheci 2 professoras universitárias realizando pós-doutorado.
Em cada canto que íamos encontrávamos jovens brasileiros em intercâmbio.
Nos últimos anos, vários amigos passaram em concursos para os
Institutos Federais e para as Universidades criadas no governo Lula.
Tenho amigos lecionando no interior do RJ, no Piauí, em Diamantina, Ouro
Preto, na UFMG, no Mato Grosso, no Pará. Eles fazem parte dos mais de
100 mil professores universitários e técnicos-administrativos
contratados na última década. Por isso a minha tristeza. Penso no
retrocesso que pode significar um governo Temer. Já falaram em
austeridade e privatização, em diminuir a máquina pública, em cortar
gastos na saúde e na educação, em fundir ministério da cultura com o da
educação e da agricultura com o desenvolvimento agrário. Que as deusas
tenham piedade de nós.
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