domingo, 24 de abril de 2016

Retrocesso não!

O menino chega da escola e me pega chorando.
- "O que foi, mãe? É por causa da Dilma?"
- É filho, é por causa da Dilma. Mas é também por mim, pelas mulheres, por você e por milhões de pessoas". Minha irmã manda mensagem: "Dalva, tô triste demais. Como reagir?" Eu, que chorei o dia todo não sei o que dizer. É muito retrocesso. Enquanto o tanquinho bate as roupas, vou limpar a casa. Arrasto os móveis, jogo a água das roupas na casa, na varanda. Lembro da Clarice no seu conto sobre a esperança. É preciso facilitar o caminho da esperança, limpar tudo para que a aranha não coma o inseto. Enquanto limpo vou pensando em como foi minha vida nos últimos anos. De como mudou no governo Lula e Dilma. Entrei tardiamente na universidade num tempo que não tinha cotas, se tivesse teria facilitado um monte minha vida. Consegui terminar o curso graças a uma bolsa para alunos carentes da Fundação Universitária Mendes Pimentel - FUMP. Aliás, dos 6 irmãos que fizeram UFMG, todos foram bolsistas FUMP - carente I. Recebíamos 1 salário mínimo para estudar e preço reduzido no bandejão, além de assistência psicológica e odontológica. Depois de formada, quando arrumei um emprego, paguei cada centavo na maior satisfação. Sonhava com o mestrado que foi ficando distante por conta da luta pela sobrevivência. Só consegui voltar a estudar em 2004, no governo Lula. Fiz especialização, mestrado e doutorado com bolsa, sendo 9 meses em estágio doutoral sanduíche, em Lisboa. Lá conheci mais 2 amigos também fazendo sanduíche. Uma amiga fazia não o estágio, mas o doutorado todo na Universidade Nova de Lisboa. Conheci 2 professoras universitárias realizando pós-doutorado. Em cada canto que íamos encontrávamos jovens brasileiros em intercâmbio. Nos últimos anos, vários amigos passaram em concursos para os Institutos Federais e para as Universidades criadas no governo Lula. Tenho amigos lecionando no interior do RJ, no Piauí, em Diamantina, Ouro Preto, na UFMG, no Mato Grosso, no Pará. Eles fazem parte dos mais de 100 mil professores universitários e técnicos-administrativos contratados na última década. Por isso a minha tristeza. Penso no retrocesso que pode significar um governo Temer. Já falaram em austeridade e privatização, em diminuir a máquina pública, em cortar gastos na saúde e na educação, em fundir ministério da cultura com o da educação e da agricultura com o desenvolvimento agrário. Que as deusas tenham piedade de nós.

Nenhum comentário:

Postar um comentário