sábado, 27 de fevereiro de 2016

Ilha da magia


O avião pousou no horário previsto, por volta das 19h. Foi só o tempo de pegar a mala vazia que levava e já estava no ponto esperando o ônibus. A mala era para trazer algumas coisas que não consegui desapegar e que, há mais de 3 anos entulhava o quartinho da casa da minha amiga Verônica: uma colcha de retalhos, as varinhas de Harry Potter do menino, algumas fotos, livros, cartinhas de despedida dos colegas das escolas por onde ele passou... Cerca de meia hora depois já estava no centro, mais meia hora esperando o ônibus, um congestionamento e lá pelas 21h, estava arrastando a minha mala 360º (caríssima!) pelas ruas de areia do Campeche. A (i)mobilidade de Florianópolis e suas ruas sem calçada foram suficientes para me irritar na volta à cidade. Mas foi só chegar na casa de Gabina para esquecer tudo. Davi, como sempre, fazendo suas comidinhas e nos servindo. Sem falar, na resenha sem fim, que acontece a cada vez que me encontro com Gabina. No dia seguinte já era sua defesa. Ir para a UFSC, passando pelo Rio Tavares e Lagoa da Conceição me encheu de nostalgia, trazendo recordações das inúmeras vezes que fiz esse trajeto, de ônibus, com o menino. Enquanto o cansaço não o vencia, ele ia com a cara grudada no vidro da janela, apreciando a paisagem. Até hoje, ele é assim. Eu, acostumada com o cerrado, sempre me deslumbro com os morros verdes de Floripa e embora poluída, a Lagoa da Conceição me impressiona com sua beleza. Um passeio pelo sul da Ilha no domingo foi suficiente para esquecer os maus tratos que vivi por 2 anos na cidade. Florianópolis trata diferente quem não é branco, quem não tem carro e quem ganha pouco. Ô cidade cara, viu? Mas uma cidade é muito mais que uma construção artificial de casas e prédios e seus péssimos gestores públicos. Uma cidade é acima de tudo, sua gente com seus sonhos, desejos, projetos e esperanças. Gente que com suas múltiplas redes de socialidade, estilos de vida e conflitos, dão vida ao lugar. Receber o carinho da Verônica, minha amiga-irmã-procuradora, da Bianca que acabara de me conhecer pessoalmente e foi tão gentil, de Gabina que é amiga-irmã, da Tati, agora ainda mais empoderada com sua carteira de habilitação recém-tirada e seu fusquinha. Muito mais que um carro, o fusca é um depoimento e foi a bordo dele que senti toda a segurança da Tati/2016. Ninguém segura essa mulher, gente! As conversas-divã a bordo do fusquinha-depoimento me liberaram de anos de terapia. Foi tudo lindo! Tão lindo que, dias depois, ainda fico tentando recuperar o momento belo. Como diz a poeta, me corto ao meio, me solto de mim e voo de volta para a cidade. E como as bruxas que dizem existir por lá, vagueio por sobre a Ilha, tentando recuperar toda a magia que vivi.

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