"eu só tenho o cotidiano e meu sentimento dele" (adélia prado)
já que o scooby me tirou da cama, fui caminhar. o sol começando a
despontar atrás da serra do baldim. o céu, sem uma nuvenzinha sequer,
anunciando que o dia vai ser quente. um avião a caminho do aeroporto de
confins deixou um rastro de fumaça, me lembrando que o preço das
passagens para petrolina vai inviabilizar o próximo concurso. justo
agora, que meu amigo me arrumou o dinheiro para a inscrição. com o fone
de ouvido comprado na loja do indiano,
em lisboa, funcionando de um lado só, fui ouvindo "mandume" do emicida e
refletindo sobre a quebrada e seus personagens. no meio do caminho a
bateria do celular acabou me obrigando a prestar atenção aos sons do
ambiente. na minha frente, duas senhoras com foices nos ombros. nas mãos
uma sacola, provavelmente com a garrafa d'água e o pano velho para a
rodilha. é ela que protege a cabeça na volta pra casa com os feixes de
lenha. fui ouvindo a conversa das duas. falavam do preço da conta de
luz, dos filhos, da consulta no posto de saúde. na esquina feita
depósito de lixo, uma delas achou um caldeirãozinho jogado fora. "olha,
tá bom ainda, dá até pra plantar uma planta", e deixou ele separado num
cantinho, para pegar na volta. mais à frente elas entraram no mato e eu
segui sozinha. na volta pude ouvir o som da foice picando a lenha e a
alegria de uma delas por ter achado um "pau bão", "só juntar mais um
pouquinho e já dá pra voltar pra casa". "bom mesmo era ter uma charrete,
aí dava pra ir longe, onde tem lenha boa". parafraseando o velho Guima,
a quebrada está em toda parte, a quebrada está é dentro da gente. é com
esse baldim que me identifico. é no cerradinho que me sinto em casa.
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