quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

É domingo

chove, há dias. uma chuvinha fina, daquelas que não fazem estragos, mas engrossa rio e faz o milho crescer. depois de me tirarem da cama e revirarem essa casa pelo avesso, os cachorros agora, dormem. nalinha agarrada a uma bolinha presa por um cadarço, que acho que é do meu tênis. quem será que tirou? dandara se enrodilhou aos meus pés enquanto eu lavava a louça do café e por lá ficou, junto da pia da cozinha. scooby, aos poucos, vai assumindo, novamente, o seu lugar embaixo da mesa. frida preferiu a solidão da sala. está tudo tão quieto e silencioso que só ouço o barulhinho da chuva no telhado velho, e o canto das seriemas lá no morro. se, em seguida, não chegasse as vozes do coro da igreja, na missa de domingo, eu acharia que a cidade inteira estaria no quentinho, embaixo das cobertas. mas alguns corajosos enfrentaram a chuva e o frio e foram à missa. d. geralda é uma delas. daqui, escuto sua risada, voltando pra casa para preparar o almoço. aproveito a calmaria para ler um pouco. abro o livro de virgínia woolf e leio:" a mulher precisa ter dinheiro e um teto todo dela se pretende mesmo escrever ficção." eu, sempre enredada nas teias do trabalho doméstico e nas obrigações de dona de casa e mãe de filho quase dou razão à escritora, quando lembro de outra, anzaldúa: "esqueça o quarto só pra si, escreva na cozinha, no banheiro"; "enquanto lava o chão, ou as roupas, escute as palavras ecoando em seu corpo". é sempre assim, quando começo a desanimar, uma escritora vem e me salva.

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