domingo, 14 de fevereiro de 2016

Saudades

A casa está tão silenciosa que ouço o ressonar do Scooby aos meus pés. Vez ou outra ele solta um daqueles suspiros longos que sempre me impressionam. Dandara e Nala também estão aqui, enrodilhadas. Todos à minha volta, com exceção da Frida, que deve estar por aí, curtindo a sua solidão em algum canto da casa.
Do quintal do vizinho chega um som de enxada batendo na terra. Talvez alguém esteja capinando o mato que cresceu nesses dias de chuva. Do outro lado da rua alguém começou alguma pequena reforma, pois chega um som de parede sendo quebrada. Ainda é cedo para o canto das siriemas no morro, pois elas começam a cantar sempre por volta das 10h, não me pergunte por quê. Morro, que aliás, está verdinho por causa das muitas chuvas que caíram neste janeiro.
O silêncio aguça a saudade que sinto. Uma saudade estranha dos meus amigos Davi e Roberto. Davi veio do RJ me visitar. Adoro essas amizades que não medem esforços. Mal ele chegou, nem bem tirou a mochila das costas e já começamos o debate. Aquela conversa sem fim que até seca a garganta. Mal saíamos da mesa do café. Nos dias que esteve aqui, a cozinha esteve sempre perfumada com o cheiro do capim cidreira, das folhas de laranjas e de pitanga dos seus chás. Davi com suas comidinhas gostosas, seus bolos e pães, suas receitas. Davi me ensinando remédios caseiros para tratar dos carrapatos dos cachorros e das feridinhas no corpo da Frida. Davi e suas fotos durante a nossa caminhada no final da tarde. Davi, com sua barba enorme de terrorista (hahaha) chamando a atenção da cidade. Essa Dalva anda com cada tipo esquisito. Primeiro um "elemento suspeito" em cima de uma moto que rendeu até enquadro da polícia com direito a arma em punho e tudo. E agora, esse barbudão aí.
Por falar em elemento suspeito, Roberto se juntou a nós no domingo e os debates aumentaram. Já no primeiro ônibus que pegamos começaram as discussões sobre transporte público e direito à cidade. O jovem noiado que nos pediu uma moeda na porta da estação do Move rendeu um debate do centro à Pampulha sobre subalternidade, sujeitos de direitos, ética e liberdade. Não adianta, é sempre assim. "Amizade é matéria de salvação", já disse a santa Clarice. E os meus amigos me salvam, sempre!

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