Os últimos dias foram tão tensos que nem caminhar consegui. Hoje,
acordei e fui bem cedinho. É tão bom. A cidade ainda mais silenciosa e o
sol dando seu espetáculo. Durante muito tempo nas caminhadas, só ouvia o
gravador com os dados de campo, as entrevistas, as conversas com a
orientadora e com os amigos que me ajudaram a organizar as ideias da
pesquisa. Hoje, com uma playlist nova, recém-baixada para o celular,
senti novamente o prazer da endorfina sendo liberada, não só pelo
exercício físico, como também pela boa música.
Comecei ouvindo
as músicas do projeto "Mar Azul", que é uma releitura de sucessos do
Clube da Esquina. Júlia Vargas, com sua voz maravilhosa, acompanhada de
violão e flauta baixo. Júlia, além de linda, canta super bem. Foi
comparada a Sara Vaughan, pelo Milton Nascimento. Ouvir Júlia me deixa
tão arrependida de ter abandonado o projeto da banda de Seo João de
Afonso. Queria tanto cantar, ser backing vocal. Quem sabe um dia ainda
realizo o desejo de fazer aulas de canto?
Em seguida veio Criolo
com a trilha do filme "Cidade Cinza" que fala sobre a política de
"limpeza urbana" que a prefeitura de São Paulo tinha há alguns anos,
apagando os grafites pela cidade. Criolo, gênio, busca Cosme e Damião e
Doum para homenagear os irmãos grafiteiros "Gêmeos". Em seguida, Criolo
continua com "Olhos de Safira" , uma crônica sobre um homem abandonado
em um hotel da Rua Augusta. Para "fazer valer" a diária já paga, o
apaixonado volta ao quarto com três cabrochas solidárias à sua condição.
Em seguida surge a voz suave de Michele Leal, que também me
mata de inveja, e me faz lembrar do casario, telhados e torres da cidade
de Diamantina, que acho, é onde foi composta a música "Paisagem da
janela", de Lô Borges e Fernando Brant.
Paulinho Moska canta
"Quem sabe isso quer dizer amor", acompanhado de seu violão. Em seguida,
Pedro Luiz me lembra da realeza conga com os versos:
"Dentro das alas, nações em festa
Reis e rainhas cantar
Ninguém se cala louvando as glórias
Que a história contou
Marinheiros, capitães, negros sobas
Rei do congo, a rainha e seu povo
As mucamas e os escravos no canavial
Amadês senhor de engenho e sinhá".
É a letra de "Reis e rainhas do Maracatu", de Milton Nascimento.
Criolo volta me trazendo inspiração com a música nova do disco "Violar", projeto do estúdio "Instituto":
É, dizem que não é pra você
Essa história de vencer
E sonhar e conquistar
Eu digo que é pra você
Essa história de vencer
De sonhar e conquistar
Eles querem forjar heróis
Pra manter o povo sem voz
É o soco no queixo, lapada no beiço
O tambor de criola merece respeito
Duro é saber que o país que almejo
Já foi vendido por um baixo preço
Então façam das flores navalhas
Que farei das canções baionetas
A verdade é o todo e o todo é povo
Meu povo é sofrido e não foge da luta
Pois em casa de menino de rua
O último a dormir apaga lua
Vai, que eu quero encontrar este lugar
E possa dizer: "valeu a pena essa porra de vez!"
Vai ser assim, senhor".
Em seguida entra a voz de Johnny Hooker lembrando tudo que já sofri por
amor, ao cantar "Volta" e aí não tem como não lembrar do clip lindo
dele com Irandhir Santos. Ele ainda canta "Amor marginal" e me faz
lembrar dessa galera que tá chegando por aí, desconstruindo tudo:
Liniker, Zek Andrade, Rico Dalasam.
Na volta ouço Nina Simone com a trilha sonora da minh vida "Ain't got no" e em seguida, "Don't let me be misunderstood".
E para fechar, em homenagem ao menino, ouço a banda "Maneva", em
"Daquele jeito" e lembro dele dançando reggae e penso que valeu a pena
todas as vezes que o carreguei, ainda bebê, com a matulinha de fraudas e
papinhas a tiracolo, para um monte de show bacana.
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