sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Filho é pro mundo?

hoje ouvi pela primeira vez "mãe", faixa do novo álbum do emicida. "em tudo ouvia a voz de minha mãe, diz o refrão. não tem como não lembrar da minha. tô aqui morando na casa que foi dela, que ela comprou e que trabalhou tanto para pagar. "não esqueci da senhora", emicida canta. eu também não esqueço da minha. faço arroz na mesma panela que ela fazia; estendo a roupa no varal, como ela estendia. como o rapper, eu também, em tudo ouço a voz de minha mãe. até hoje. "em tudo eu via nois". "marcas várias, senzalas, cesárias, cicatrizes, estrias, varizes, crises..." "enquanto enfrenta a guerra, os tanque, as roupa suja, vida sem amaciante"... "até meu jeito é o dela"..."vi deus, ele era uma mulher preta". a emoção é tanta que a filha cede lugar à mãe. lembro do menino. pauso a música que rola no computador na mesa da cozinha e vou até o quarto, já em prantos. "a beleza sozinha é triste, disse o poeta", preciso dividir com alguém. "tô ouvindo a música nova do emicida", falo já em soluços. ele diz: eu também! e solta o plug do fone ligado no tablet. o som ecoa pelo casa: "em tudo eu via a voz de minha mãe". o meu choro aumenta. o menino me abraça e eu choro ainda mais. "a sós nesse mundo incerto"... ele que por tanto tempo coube em meu colo, agora é quem me acolhe em um abraço apertado e, enquanto as batidas do seu coração colado em meu ouvido se confundem com os bits da música, ouço dona jacira, mãe do rapper dizer, "alguém prevenia: filho é pro mundo", e ela mesma, fazendo minhas as suas palavras, responde: "não, o meu é meu!"


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