segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Bença, Dindinha!


Ainda estou impactada pela visita à Dindinha Maria. Dindinha era casada com o irmão de mamãe, tio Bolivar e é madrinha do meu irmão mais velho. Mas nós todos, os dez irmãos, também a adotamos como madrinha. Virou a dindinha de todos nós. Nossos quebrantos, mau-olhados e espinhelas caídas foram curados por ela e seus raminhos de arruda e guiné, 'panhados' em sua horta. Dindinha enterrou recentemente suas duas únicas filhas em um espaço curto de meses. Ainda assim, continua lá, firme e forte. 'Agora a Senhora está sozinha, Dindinha?' Meu irmão perguntou. Ela respondeu: 'Não, tô com Deus!' Seu terreiro parece uma aldeia, com as casas dos filhos, netos e bisnetos, todas construídas ao redor da sua. Sentados na cozinha, eu observava sua boca murcha, sem nenhum dente, e ouvia suas histórias. Olhava, olhava e só via beleza. Apesar da pele vincada, do corpo já curvado pelo peso do mundo, as rugas eram poucas para quem está com 80 anos e forjou sua vida no cabo da enxada. Enquanto ela falava eu via mamãe em suas histórias, nos detalhes da sua casa. A luz da manhã entrando pelos brechas do telhado, a cinza no fogão ainda quente, confirmando que o café oferecido, tinha sido coado ali, naquele fogão, recentemente. A cozinha, agora, abriga um desses armários tipo 'casas bahia' , mas a prateleira antiga, com as vasilhas de alumínio extremamente ariadas (como também eram as vasilhas de mamãe), também estavam lá. O papagaio irritado em dividir a companhia dela conosco, a chamava o tempo todo: 'mãe, mãe, ô mãe!'. É isso o que ela é: uma mãe! Até os netos a chamam assim. Saí de lá, convencida que esse é o meu lugar. Minha força vem dessas mulheres, simples e guerreiras, grandes matriarcas; minha descendência vem desse império.  Cada dia eu me convenço mais que sou é mulher do povo, mãe de filho, sonhando em ser Adélia. Quero ser carpideira, encomendadora de almas, dançadeira de São Gonçalo. É desse lugar que vim, é nesse lugar que gosto de estar.
A bênção, Dindinha!

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