sábado, 29 de abril de 2017

A cidade e o morro

Quando eu tinha 13 anos mamãe mudou para BH. Lembro que cheguei da escola e ela estava embalando as coisas. Dona Angelina, nossa vizinha, ajudava enrolando a louça em jornal. Eu não acreditei no que via. Depois de muita ameaça mamãe cumpria o prometido e saía de casa, separando de vez do papai. Me deu um aperto no peito, um nó na garganta, uma vontade de chorar.
- Você decide se vem ou se fica. Ela disse.
Como ir? Na época eu vivia dividida entre nossa casa e a casa do vovô.Vovó Chica já tinha morrido, mas antes de morrer chorou muitas vezes. Quando eu perguntava por que, ela dizia entre lágrimas:
-Tenho medo de morrer e você largar o Izé sozinho.
Não tinha como acompanhar mamãe. Fiquei com o vovô. Foi uma das decisões mais difíceis da minha vida. Durante anos sofri com essa situação. Meu desejo era a capital onde mamãe e meus irmãos e irmãs estavam. Mas não tinha como deixar o vovô "Izé" sozinho.
Mas a vida dá voltas. Passados quase 40 anos, hoje é o contrário. Eu sofro para ir para a capital. Nunca pensei que fosse gostar tanto dessa janela azul de tramela, de olhar o morro através dela, de ficar observando os beija-flores e os passarinhos, de me deslumbrar com cada brotinho que nasce neste quintal. E ainda tem o afeto do Scooby, da Fridinha, as histórias do meu irmão. Sem contar ficar longe do menino.
É, o mundo dá mesmo muitas voltas...

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