sábado, 29 de abril de 2017

Sigamos em luta!

Nestes tempos escuros mesmo com sol quente [a fala é de Dona Jacira] minha esperança tem andado como a menininha do poema do Quintana. Todos os dias ela se atira do décimo segundo andar e apesar de se estatelar no chão, miraculosamente incólume, quando indagada:
"Como é seu nome, meninazinha de olhos verdes?" 
Devagarinho, ela responde: 
"O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA..." 
Tem sido assim nesses dias brutos. Como nos ensina Clarice, é preciso facilitar o caminho da esperança. E Hoje foi assim. Em plena Praça Sete, embaixo de chuva, em meio a muitos rostos conhecidos, enquanto ouvia sindicalistas e militantes do alto do carro de som. Enquanto ouvia Jô Moraes, de quem fui tantas vezes eleitora, Rogério Correia em quem já votei tantas vezes, Marília Campos que também já votei, Áurea Carolina, minha vereadora, em minha frente passou um filme... No meio de tantos rostos já marcados pelo tempo, de homens e mulheres que deveriam estar curtindo a aposentadoria porque já trabalharam tanto, mas que não, estavam na rua, lutando por direitos que essa quadrilha que assaltou o governo tem nos roubado. Eu, que comecei no meu primeiro [sub]emprego aos 14 anos, que fui doméstica, balconista, servente, serviços gerais, educadora infantil. Eu, que limpei bunda de meninx, dei banho, coloquei no colo, ninei, cantei pra elxs dormirem. Eu, que já alfabetizei, que pegava 3 ônibus para dar aulas para uma primeira série em Nova Contagem, levando cerca de 3 horas para chegar na escola, onde meus/minhas alunxs moravam embaixo de barracos de lona, numa ocupação. Eu, que dei ensino religioso [na verdade era sociologia, pois não sei dar aulas de outra coisa] para alunos de quinta a oitava série. Que cheguei a ter 900 alunxs, distribuídos em 18 turmas, em 4 escolas diferentes para formar 1 cargo completo como professora designada da rede pública estadual. Eu, que enquanto fazia mestrado vi inúmerxs amigxs passando em concurso e assumindo nos Institutos Federais e nas Universidades criadas durante o governo Lula. Eu, enquanto abraçava conhecidxs de anos e conhecidxs que chegaram agora, me emocionei. Eu, que vibrei com a promulgação da Constituição de 1988, com a conquista do vale-transporte [uma economia e tanto quando se ganha pouco] e com o tíquete refeição e não precisar mais levar marmita. Eu, que já fui tantas vezes trabalhadora terceirizada sem direito a férias e invejando xs colegas efetivxs. Eu, que estou professora substituta e ainda sonho em passar num concurso e ser efetiva, e ter um salário digno e poder proporcionar ao menino um armário das Casas Bahia [que seja] para que ele possa tirar as coisinhas dele da caixa de madeira e de sapatos improvisada em guarda-roupas. Eu, que ainda sonho em ter o meu cantinho, em tirar os meus santos e minha jarrinha do Jequitinhonha da caixeta. Eu, a ponto de completar 51 anos, e que ainda sou uma sem-teto com minhas coisas e meus livros acomodados em casa de amigxs. Enquanto ouvia as falas emocionadas de gente, há tanto tempo na luta, chorei. Chorei junto da minha amiga de 'milianos', que conheci quando éramos telefonistas terceirizadas na antiga Telemig. Chorei porque é muita luta. Chorei porque como disse o funcionário do condomínio, assim que cheguei da manifestação, nos últimos anos conquistamos direitos, de viajar, de ter um carro, de reformar a casinha e relaxamos. Achamos que estava tudo garantido. E direitos não são permanentes, não são concedidos de boa vontade, são resultado de luta. Enquanto ouvia as falas do carro de som e me emocionava com a beleza que estava aquela praça, lotada, apesar da chuva. Eu, que estava estatelada no chão, quando indagada novamente, consegui enfim, murmurar, devagarinho, como a menina do poema do Quintana: Sim! Há ES-PE-RAN-ÇA! Como diz o Emicida: "As pessoas são como as palavras, só tem sentido se junto das outras. (...) Eu e você juntos somos nóiz, "nóiz" que ninguém desata. A rua é nóiz!" 
Sigamos em luta!

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