sábado, 29 de abril de 2017

Niver do menino

21 de abril de 2002. Há 15 anos meus olhos encontraram os seus pela primeira vez e eu só sabia repetir: ele é lindo, ele é lindo! Repetimos esse gesto enquanto você coube no meu colo, lembra? "Mãe, vamos representar o dia em que eu nasci?" "Mãe, conta a história quando você decidiu que me queria ter?" E, quantas vezes, eu, segurando o riso, colocava você no colo e repetíamos, o gesto e a frase. Você, sério, brigava: "Sem rir, mãe. Isso é uma representação, se concentra!" 15 anos! Passamos tanta coisa juntos, né? 5 cidades, 2 países, 2 continentes, 9 escolas, 10 casas! E você sempre de bom humor, segurando a minha mão. Lembra daquele dia em Florianópolis que fui encontrar com você, depois da aula, aos prantos, depois de ter sido humilhada em sala porque eu não conseguia ler a bibliografia em inglês do doutorado? O professor disse que eu não podia me vitimizar. Hoje, eu teria todos os argumentos para debater com ele e explicar que não era "mimimi", mas naquele dia só consegui chorar. E subindo a ladeira no bairro Carvoeira, você, aos 8 anos de idade, segurou minha mão e disse: "Calma, mãe! Olha onde você chegou!" E me contou a história do rei que distribuiu sementes aos seus súditos. Do alto de sua sabedoria infantil você me confortava: "Mãe, você plantou sua semente. Eu vi! Ela vai germinar!" Naquela hora eu me senti ridícula sendo consolada por uma criança, apertei sua mão com força e subimos a ladeira, a caminho da quitinet, apoiando um no outro. E tem sido assim nesses anos todos. Como ontem a noite, quando você chegou da casa do seu pai e fez a resenha da semana que passamos longe. "Mãe, você pode não acreditar, mas eu sinto sua falta!" Deitado ao meu lado, você confessou. É claro que eu acredito, pois eu sinto a sua falta também! Muito! Pergunte para xs meus/minhas alunxs como eu falo de você. Esta semana mesmo comentei do rap que você me apresentou [Poetas no topo 3.1] e do montão de referência bacana que tem em cada verso. Ontem, me deu um orgulho danado ao ouvir seus conselhos: "Mãe, foca neste concurso do Coltec e na vaga do Juarez [Dayrell] que vai abrir. É a sua cara, mãe! É o seu lugar!" E explicou que não gostaria de mudar mais uma vez de estado. Que prefere morar em BH e ficar pertinho de Baldim. Quando você ainda estava na minha barriga, eu me preocupava se você teria uma cabeça legal, se gostaria de música boa. Hoje, tenho a certeza que você superou todas as minhas expectativas. E tenho um orgulho enorme do homem que você vai, aos poucos, se tornando. Sua indignação com a injustiça social, o carinho e cuidado que você tem com as crianças e com os animais, o respeito pelos mais velhos, o fato de ter aprendido a viver com pouco. Quase morro de orgulho, quando hoje, preocupado com a minha lerdeza, você é quem segura com a sua mão enorme, a minha na hora de atravessar a rua. Ou, quando no supermercado, você leva as sacolas mais pesadas, ou ainda nos shows, quando você procura o melhor lugar para eu poder ver tudo direitinho. “Tá de boa aí, mãe”? E ouço no meu ouvido você gritando junto comigo o nome do ídolo comum. Mês que vem tem show do Racionais, e tenho certeza que vou chorar ao cantar junto com você, "Negro Drama":
"Daria um filme,
Uma negra,
E uma criança nos braços,
Solitária na floresta,
De concreto e aço"...
E juntos, vamos pra fila do camarim para abraçar e tirar foto com os 4 pretos mais perigosos do Brasil, que há anos me ajudam na tarefa de criar um ser humano melhor pra esse mundo, que, não tá fácil, não!
Te amo, João Pedro! Feliz dia seu!

Nenhum comentário:

Postar um comentário