domingo, 7 de maio de 2017

O mundo dá voltas

Quando cheguei em casa na sexta à noite, fui recebidas pelos cachorros. Scooby, enlouquecido com a minha chegada, pulava tanto que me arranhou os braços, . Fridinha, dengosa, veio pro colo. O menino só vi mais tarde, quando chegou do rolê. Veio pro meu quarto porque eu já estava deitada e fomos passar a semana a limpo. Contei da prova do concurso que não passei. Ele me consolou e deu força: "Agora é continuar estudando e insistindo, mãe! Uma hora dá certo". Falei de outra inscrição, dessa vez para o interior do Piauí. Ele disse que não era o desejo dele, mas que, 'se rolar', vai junto porque sabe que estou sempre buscando o melhor para nós. Depois, deitou do meu lado e me mostrou, no celular, as descobertas musicais. Falou também, de um certo cansaço em ser enxergado como "exótico" numa cidade de 7 mil habitantes, por conta do cabelo e do skate; e de ser enxergado como da "roça" pelos amigos da metrópole, que insistem em ensiná-lo a usar a manete do playstation, como se ele não soubesse. Falou das falas e das posturas racistas, cotidianas, que acontece na escola. Falou das conversas que tem tido com as amigas negras e de como tem insistido com elas sobre a necessidade de se posicionarem e não aceitarem racismo e preconceito travestido de "brincadeiras. Falou que quem decide se é ofensa ou não, é quem se sentiu ofendido. Eu ainda me surpreendo, diariamente, com a postura madura desse menino que não para de crescer e não é só fisicamente. Uma ternura imensa tomou conta de mim e quando o sono chegou, pedi a ele que ficasse deitado, ali, do meu lado, até eu dormir. Ele me abraçou, riu e disse: "Como o mundo da voltas, hein, mãe? Até outro dia eu queria dormir com você e você não deixava." Fiquei quietinha, vivendo aquela horinha de descuido e lembrando de tudo que passamos até chegar aqui. Ele, achando que eu já tinha dormido, saiu pé ante pé e fechou a porta do quarto.

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