sexta-feira, 27 de abril de 2018

"Quando a coisa fica preta, fica linda!"

Segunda-feira passada, dia 16 de abril, fui ouvir a escritora Ana Maria Gonçalves no Projeto Pretança no Centro Universitário UNA. Ana Maria falou sobre gênero, raça, narrativas e contemporaneidades. Entre outras coisas, a escritora falou sobre como estamos reativos. Em tempos de imagem/legenda, nossa reatividade resume-se a dar like e repostar conteúdos nas redes sociais, sem no entanto, elaborar qualquer tipo de reflexão. Como criar, se posicionar e ser propositivo num mundo que nos demanda tanta reação, foi o questionamento de Ana Maria. E foi com ele na cabeça que saí de lá. 
A conversa foi tão boa que decidimos, eu e uma amiga, seguirmos para o Teatro Espanca, uma espécie de quilombo urbano na região da Praça da Estação, onde a escritora seria homenageada. Um público majoritariamente negro a aguardava para o segundo evento da noite, dentro da Segunda Preta, projeto que busca empretecer as segundas-feiras da cena artística belorizontina.
Terminei o dia convencida que, apesar dos golpes que estamos sendo vítimas, diariamente, desde o afastamento da presidenta eleita Dilma Rousseff, existe uma revolução em curso, e que, na minha opinião, passa pelo povo negro. Hoje, o que acontece de mais interessante vem das periferias e da população preta.
Dias depois, assisti a uma entrevista com a filósofa Marilena Chauí, onde ela explicava que a sensação de impotência que nos acomete em períodos de crise, vêm justamente de um sentimento de perda individual, e que a capacidade de reversão disso, só virá se estivermos juntos com outros, num experiência de comunidade, de coletividade, de grupo, de movimento. Imediatamente fiz o link com a experiência da Segunda Preta, pensando como saí de lá me sentindo mais fortalecida. Lembrei, então, de uma fala da escritora Conceição Evaristo, de quem sou devota. Segundo ela, quando o sujeito escravizado fugia para o quilombo, ele nunca tinha certeza de sua liberdade, que podia ser perdida a qualquer momento. O que exigia sempre um exercício de resistência, persistência e resiliência. A isso, ela denomina de “práxis quilombola”.
Daí, a minha alegria ao ser convidada para colaborar com o Instituto Bambarê, uma organização que trabalha na divulgação, difusão e valorização da cultura afrobrasileira em suas variadas vertentes. Meu desejo é que esse espaço se transforme num quilombo, onde coletivamente possamos deixar de sermos apenas reativos, propagadores de imagens/legendas, mas capazes de pensarmos juntos alternativas para sairmos do buraco onde o país se enfiou e que parece não ter fundo. Que aprendamos com as nossas mais velhas, com todas e todas que vieram antes de nós. Como diz a mestra, Capitã Pedrina, precisamos continuar resistindo, como nosso povo faz, há mais de 500 anos. Segundo ela, que é uma mulher de palavra, se o pensamento é força viva, a palavra também o é. Que esta coluna seja um lugar de reflexão e de proposição.
Aquilombemo-nos!

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