segunda-feira, 2 de abril de 2018

Fridoquinha, meu amor!

Eu não conhecia o afeto dos cachorros até ir morar em Baldim. Aliás, tinha um pouco de preguiça, não gostava que se aproximassem muito de mim. Mas, os cerca de três anos e meio morando na casa de janela azul, me mudaram pra sempre. Primeiro foi Scooby. Três vezes rejeitado. Coitado! Quando cheguei em Baldim, ele não entrava dentro de casa. Com o tempo, só ficava perto de mim e foi minha companhia nos meses que escrevi a tese. Meu irmão diz que estraguei o cachorro, que ele manda em mim. E é verdade. Durante todo o tempo que morei lá, era meu despertador. Tirou toda a tinta da janela do quarto onde eu dormia e da porta da sala, onde raspava a pata me chamando para abrir o portão para o seu rolê matinal. Aliás, ele até aprendeu a abrir o portão sozinho. Depois veio Fridinha. No começo, o menino a chamava de "Nego Véio", até descobrirmos que era fêmea. Comecei colocando água e ração fora do portão, mas cachorrinha safa, de rua, sempre conseguia um jeito de se esconder em algum canto. Só percebíamos, quando sentíamos o mau cheiro. Até que um dia resolvemos dar um banho nela. Cheia de parasitas, dentes quebrados, parecendo velhinha. Custou a atender pelo novo nome: Frida, por causa das feridas em seu corpo. Depois do banho ela nunca mais foi embora. Mas, chegou grávida. Meu deus! Quando eu vi a barriguinha dela crescendo, me desesperei. Minha amiga, Ana Augusta, que é veterinária, me acalmou: Calma, Dalva! A gente arranja adoção. E a natureza se encarrega de tudo. No dia do parto eu ouvi um grunhidozinho vindo debaixo da cama do menino, onde ela gostava de ficar. Nasceram quatro filhotes, dois sobreviveram. Nalinha e Dandara. Nalinha, a cara da mãe, toda branca e peludinha. E Dandara, marronzinha, espevitada como a guerreira de quem roubamos o nome. Nalinha foi adotada por um sobrinho. Dandara ainda ficou conosco por oito meses. O dia que foi levada por uma amiga que me visitou, eu achei que ia ficar em depressão, tamanha a tristeza que senti. A imagem dela no banco de trás do carro, olhando pra mim, sem entender o que acontecia, me cortou o coração. Me consolava a ideia que ela tinha ascendido socialmente, ia morar na zona sul, teria acesso a dia de princesa em pet shop. Foi acolhida numa família que depois dela se converteu aos cachorros. Já são três por lá. Na mudança de Baldim para BH, Fridinha veio conosco. Agora somos uma família de três: eu, o menino e ela. Há algumas semanas foi, pela primeira vez, ao veterinário. Destoava dos cachorrinhos de madame que vimos por lá. Eu nunca vi uma cachorra combinar tanto com os donos, como ela combina conosco. Pura maloqueiragem. Teve seu dia de princesa, cortou as unhas, tosou o pelo, fez exames, recebeu medicamentos. Quando deixei ela lá para o banho e voltei para casa, meu coração cortou de dó com medo dela achar que eu a estava abandonando. Essa cachorrinha já sofreu demais nas ruas, é tensa, traumatizada. A deixei no começo da manhã, no começo da tarde, eu não aguentava de ansiedade, imaginando ela trancada naquela gaiola, se sentindo abandonada. Nem esperei o motorista trazer, fui eu mesma buscar. Voltei agarrada com ela. Pode parecer exagero, mas quando ela está dormindo, eu olho se está respirando. Como fazia com o menino quando ele era bebê. Esse afeto pelos bichos que eu não conhecia, é mesmo uma espécie de conversão. Alguma chavinha vira dentro de você, que passa a observar todos os cachorros do mundo. Como agnóstica fajuta que sou, até virei devota de São Francisco, comprei uma imagem dele e tenho pedido muito que cure o problema de pele que Fridinha tem, que sare as feridas em seu corpo tão pequeno, tão sofrido. Os traumas do tempo que viveu na rua a gente tenta amenizar com todo amor que sentimos por ela.
Os bichos humanizam a gente.
Certeza!

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