segunda-feira, 2 de abril de 2018

A arte de perder

Toda vez que me vejo às voltas com a frustração de alguma perda, seja ela qual for, lembro sempre do poema da Elizabeth Bishop, "A arte de perder". Bishop ensina que não há nenhum mistério em perder, não é nada sério. Nos últimos meses eu perdi uma janela azul de tramela, perdi um pé de mamão nascido numa frincha na parede da cozinha, perdi as "mulatas na sala" nascidas no piso trincado da casa velha. Perdi os beija-flores que já tinham até sido batizados pelo menino: Van Gog e Monet. Bishop ensina que é preciso um exercício diário de desapego. Devemos começar com coisas simples: as chaves de casa, as horas gastas bestamente. Mas é preciso avançar, perder com mais rapidez e mais critério. Mês passado perdi um contrato de trabalho com um salário bacana. Ontem, perdi numa classificação para uma vaga de trabalho. Mas é preciso continuar. Perder nomes, lugares, viagens, cidades, pessoas... Às vezes é preciso perder até o ar. Já perdi mãe, pai, amores, amigos, e a vida continua. Começar com pequenas coisas e avançar com mais rapidez e critério. Não é nenhum mistério...

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