segunda-feira, 2 de abril de 2018

O sol

Foi com mãe que aprendi que o tempo sara as feridas e que o sol tira todas as manchas. Por isso, especialmente as roupas brancas, precisam quarar. Lembro, quando criança, dela ensinando: enxaguar quatro vezes, colocar o anil na última água. Enquanto lavava os panos de prato e o uniforme do menino, lembrei de Conceição Evaristo e de sua mãe lavadeira:

"O olho do sol batia sobre as roupas estendidas no varal e mamãe sorria feliz. Gotículas de água aspergindo a minha vida-menina balançavam ao vento. Pequenas lágrimas dos lençóis. Pedrinhas azuis, pedaços de anil, fiapos de nuvens solitárias caídas do céu eram encontradas ao redor das bacias e tinas das lavagens de roupa. Tudo me causava uma comoção maior. A poesia me visitava e eu nem sabia..."

Conceição Evaristo, Poemas da recordação e outros movimentos.

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