Todo ano era a mesma ladainha. A mãe, com as mãos no queixo, da janela
da cozinha, olhava desanimada para a grama do quintal, estorricada pelo
tempo da estiagem:
"- É, dessa vez a grama morreu mesmo. Não renasce mais não."
Que nada! Na primeira chuvinha do tempo das águas, contrariando a
profecia de Dona Dulce, a grama rebrotava de novo, verdinha. E com ela,
vinha junto uma floresta de cogumelos, cada dia num canto diferente do
quintal. Os cupins ganhavam asas e brotavam do
chão em revoada e um ou outro pezinho de bem-me-quer germinava depois
da semente hibernar por meses na quentura da poeira. O tempo das águas
não tarda a chegar. E com ele, virá junto essa capacidade de
renascimento da natureza. Que a gente rebrote junto quando esse tempo de
seca passar, "porque não há mal que dure pra sempre e nem verdade que
permaneça eternamente oculta".
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