sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Ain't Got no

Ontem, recebi a visita de uma amiga, muito querida. Nos conhecemos há 28 anos (isto é impressionante) na Telemig, numa época em que ligação interurbana era feita, via telefonista. O abraço apertado no portão deu a dimensão de como o afeto continua o mesmo. As brincadeiras, as lembranças...
O menino chegou da escola e apresentei:
- "João, esta aqui, é minha amiga dos tempos do Toninho (meu ex-marido; meu deus, já fui casada de "papel passado")".
"Pôxa, faz é tempo, hein?".
O menino sempre se surpreende com as histórias, anteriores ao seu nascimento. Ele esquece que foram 36 anos vividos antes dele nascer. Ele sentou no degrau da sala para a cozinha e ficou escutando a conversa.
Nestes reencontros, sempre aparece a curiosidade de como a pessoa está e o que está fazendo: casou? separou? teve filhos? aposentou? Às vezes, me dá uma certa inquietação. Continuo a mesma dura de sempre, que gosta de estudar. Na época da Telemig e dos nossos vinte e poucos anos, eu sonhava em passar no vestibular; minha amiga falava da inveja que sentia, quando via mulheres com as chaves de seus carros nas mãos. Ontem, ela estacionou o carro dela aí, na porta. Prestes a se aposentar como professora, eu brinquei sobre a minha co-responsabilidade, pois fui eu quem pegou no pé pra ela fazer um curso superior. Quando chegou a minha fez de falar das conquistas, exibi orgulhosa os cerca de 1,80m do menino, com seu cabelo blcak power; mostrei Fridinha, minha cachorrinha resgatada da rua e falei da conclusão do doutorado. Mostrei também, os pés de pimenta em final de produção, o morro onde levo as minhas visitas para passear, o pé de mamão que começa a invadir a janela da cozinha e as lembranças dos lugares por onde passamos na última década. Já se vão 10 anos desde aquele dia em que o caminhão de mudança, pago pelo amigo, Samuel, parou na porta da kitinet para levar nossos "caquinhos" para Viçosa. Minha casa cubana ficou por lá, num "topa-tudo" quando 4 anos depois, nos mudamos para Florianópolis. Desde então, foram 7 casas, 5 cidades, 2 estados, 2 países, 2 continentes, 6 escolas. Nestas andanças, temos aprendido a desapegar, a ter somente o necessário, a não acumular coisas. Como diz a Nina Simone:

"Ain't got no home, ain't got no shoes
Ain't got no money, ain't got no class
Ain't got no skirts, ain't got no sweaters
Ain't got no perfume, ain't got no love
Ain't got no faith
Then what have I got
Why am I alive anyway?
Yeah, hell
What have I got
Nobody can take away
I've got life
I've got my freedom
Ohhh
I've got life!"

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