sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Padrinhos

Eu não tenho muitas lembranças de padrinhos e madrinhas. Normalmente, os pais escolhem para padrinhos e madrinhas de seus filhxs quem lhes é próximo, quando o filhx nasce. A vida muda, os caminhos se separam e a gente acaba ficando órfã não só de pai e mãe, como de padrinho e madrinha. Lembro da Dindinha, irmã da minha avó adotiva. Eu tive um casal de avós adotivos que dividiram com mamãe a tarefa de me criar. Nem sei se Dindinha era minha madrinha de verdade ou se era só uma forma carinhosa de chamá-la. Sei que Glória, uma das minhas irmãs mais velhas, sempre ostentou o título de minha "madrinha de representação". Ela sempre falava séria, de maneira muito responsável, que na falta da mamãe e do papai, era ela quem deveria assumir a responsabilidade sobre minha criação. Ontem, no Festival do Folclore, em Jequitibá, vi a filha de uma madrinha, mas fiquei sem jeito de perguntar pela mãe.Lembro também, vagamente, de um padrinho na infância que me preseteou um saco de balas. Acho que foi a única vez qu o vi. Ele, sentado na sala e mamãe me mandando tomar a bênção. Com exceção de Glória, minha irmã, que sempre me ensinou muito no tempo em que fomos mais próximas e ainda ensina, à distância, cada vez que esbarro com suas filhas e netos, lembro muito pouco, ou quase nada, dos outros padrinhos e madrinhas
O menino foi criado agnóstico, por isso não foi batizado. Nem por isso ele não tem experiência com o sagrado. Já foi comigo em gira de umbanda, em terreiro de candomblé, e dia desses participou de um culto evangélico. Quando fizer sua escolha, se algum dia fizer, não vai ser por imposição minha. Além disso,ele acompanha o catolicismo popular, junto comigo, desde a minha barriga. Aliás, a decisão de tê-lo se confirmou durante um remate de Folia de Reis, em janeiro de 2001 e, o senti pela primeira vez, aos três meses de gravidez, durante uma festa de congado. Ontem, depois de passar o dia em meio a guardas de congado, folias, pastorinhas e encomendadeiras de alma, o menino me confessou que, este ano, ele gostaria de participar da folia de reis. Eu, emocionada, dei a maior força.
Há alguns anos, enquanto conversávamos à beira do fogão a lenha, no sítio de um casal de amigos, o menino me perguntou se ele não poderia ter assim, "tipo", um casal de padrinhos "informais", já que não era batizado, nem nada. Eu até expliquei que, se ele quisesse, poderíamos batizá-lo, que ficasse à vontade para decidir. Mas não, ele queria mesmo era só os padrinhos. E estava ali, diante de nós, quem ele escolhera: Vânia e Paixão. Eu fiquei emocionadíssima, porque concordei demais com a escolha dele. Penso até, que os afilhadxs é quem deveriam escolher xs padrinhx, e não pai e mãe.
Desde então, Vânia e Paixão assumiram este papel e não é só bancando os mimos do afilhado com gostosuras, skate novo ou a grana para a primeira tatuagem que ele quer fazer. Além dos presentes que sempre aparecem, tem também muita conversa e conselhos.
Este final de semana teve encontro bom entre compadres, comadres e afilhado. Teve show, música, conversa. Foi lindo ver o menino, ora com o padrinho, ora com a madrinha, naqueles papos cabeças, sem fim. Discutindo a série "Narcos", ouvindo a indignação com o golpe, vendo a mãe e a madrinha dançando feito loucas durante o show do Tizumba e do Tambor Mineiro. Óbvio que a mãe, incomparavelmente, mais tímida que a madrinha, pra quem não existe tempo ruim; paciente até com os tiozinhos bebuns que queriam tirá-la para dançar.
Eu, começo a semana fortalecida, depois de reforçar esses laços de afeto que existem, nem sei mais, há quantos anos.
Gratidão, compadre Paixão! Gratidão, comadre Vânia!
É uma alegria imensa ter vocês por perto

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