"Nas águas do mar eu vou, vou me benzer, vou me banhar
Nas águas do mar eu vou, pedir perdão para abençoar
Criolo entrou no palco repetindo gestos de limpeza espiritual de quem já frequentou ou frequenta terreiro.
"E essa canção que vem é só pra limpar", ele cantou com o coro da multidão que já sabe de cor as letras de um álbum recém-lançado. Com os gestos alegres e saltitantes como os Congos no Reinado de Nossa Senhora do Rosário, ele pediu a abertura dos caminhos para o que viria a seguir. A noite prometia!
"Boca fofo quando é pega não sabe falar
Você pergunta a verdade, questiona e só faz bafafá".
Na minha leitura, essa música reflete bem o momento político das delações premiadas, dos grampos divulgados. Uma palavra, como nos diz Roland Barthes, que enfara, vazia, que não diz nada. Pura retórica. Depois veio uma das minhas preferidas, "Dilúvio de ilusão", que eu já conhecia há cerca de uns 5 anos, da internet. É visível a gratidão que Criolo sente pelos músicos que o acompanham: Gian Correia num maravilhoso violão de 7 cordas. O que é aquilo? Fernando Bastos no sax e na flauta; Ricardo Rabelo, amigo e parceiro de composição do Pagode da 27, roda de samba que existe há mais de 10 anos no Grajaú, bairro onde Criolo viveu e onde ainda vivem, seu pai, Seo Cleon, e sua mãe, Dona Maria Vilani. A percussão conta com Maurício Badé, ex-Mestre Ambrósio, Alemão e Guto Bocão, da escola de samba Vai Vai. Nos trombones, Ed Trombone, que ninguém me tira da cabeça que é ogan, porque assumiu várias vezes os atabaques, e de uma forma de quem reconhece que seus passos vem de longe. Aliás, Maurício Badé, pela forma como toca, me dá a impressão que foi criado em terreiro. Tudo isso regido pela batuta do maestro, Daniel Ganjaman, que ficou nos bastidores. O que assisti não foi um show, foi uma celebração! Um energia muito forte tomou conta de todo mundo que estava no Parque Municipal. A crítica social está presente em todas as letras. O universo da quebrada em toda a sua potência e mazelas, a situação do país pós-golpe, está tudo lá: "meninos mimados não podem reger a nação"... Criolo ainda cantou sambas de outros discos como "Linha de frente", do "Nó na orelha", "Fermento pra massa", do "Convoque seu Buda" e "Casa de mãe", que não está em nenhum disco, mas é um samba bastante acessado na internet. Com um arranjo belíssimo, Criolo dedicou a música à sua mãe, musa inspiradora da canção, num dia em que ele acordou às 4 da manhã para marcar uma consulta pra ela. A canção que dá nome ao disco é de uma desilusão de amor, primeira vez que vejo Criolo cantando esse tema em shows.
"O sol há de brilhar mais uma vez
A luz há de chegar aos corações
Do mal será queimada a semente
O amor será eterno novamente."
Confesso que nesse momento não consegui segurar o choro. E no finalzinho, antes do apagar das luzes, ele repetiu "Nas águas do mar" e fechou a gira.
Confesso que nesse momento não consegui segurar o choro. E no finalzinho, antes do apagar das luzes, ele repetiu "Nas águas do mar" e fechou a gira.
Eu não ia ao show do Criolo aqui em Fortaleza. Tinha ido ao cinema com uma amiga. Encontrei, por acaso, com outra amiga que estava esperando receber umas cortesias. Demora vai, demora vem, acabamos ganhando as cortesias, também. Fui sem muita vontade, não conhecia nada do disco novo. Mas quando ele entrou trazendo Mamãe fui logo me arrepiando. Foi lindo demais! E tuas impressões estão maravilhosas! Beijo grande!
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