quarta-feira, 28 de junho de 2017

Envelhecer

Envelhecer é um troço doido. Você se sente a mesma jovenzinha que paquerava na pracinha, mas o corpo te lembra o tempo todo que não é mais o mesmo. O metabolismo mudou. A cada ano um quilo a mais. As roupas de tamanho "p" ficaram no passado. Agora, para atender ao celular é necessário afastá-lo, esticando o braço e cerrando os olhos. Ler sem os óculos ficou impossível. A imagem que aparece no espelho vai mudando gradativamente. A menina que você foi um dia não aparece mais, e em sua direção vem uma jovem senhora, ainda meio desconhecida, mas com quem você vai aprendendo a conviver. A boca tem uma leve inclinação para baixo, uma espécie de "u" invertido que lhe confere um certo ar de tristeza. Soa estranho ser chamada de senhora, lhe cederem o lugar no ônibus, perguntarem no supermercado se você é "preferencial". Uma ou outra pessoa lhe indica uma marca de tinta para os cabelos brancos, para as manchas no rosto, as verruguinhas nas mãos. Mas você aprendeu a respeitá-las. As bolsas embaixo dos olhos são realçadas a cada vez que você chora. Mas é preciso aceitá-las porque o choro nem sempre é de tristeza. Os ombros estão meio curvos. São ombros de quem aprendeu a cerzir, a si mesma e ao tecido de um vida que foi sendo gasta. Envelhecer é privilégio. A outra alternativa não é nada boa.

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