segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Terceiro dia em Cuba

Às 07:20h, cheguei na sacada do apartamento e, Daniel, o coco taxista, já esperava na porta do prédio para me levar ao Instituto. Desta vez não tive fomos pelo Malecón, mas foi interessante ir em direção à Havana Velha por dentro do bairro Vedado. Fui observando a movimentação na cidade. Muitas, muitas crianças e adolescentes uniformizados à caminho da escola. As meninas com suas saias curtas e parte das coxas à mostra.Como são vaidosas as cubanas.

Cheguei cedo ao Instituto,  mas tive que ir a uma casa de câmbio trocar euros, pois a inscrição era em CUC's. Quando retornei, uma pequena fila havia se formado. Um rapaz, atrás de mim, perguntou se a fila era para a inscrição. Respondi que sim e ele, ao ouvir o meu sotaque perguntou se eu era brasileira.
- "Eu também - ele disse, e abandou o portunhol.
A moça, à minha frente, ouvindo nossa conversa também se apresentou:
-"Brasileiros?"
- "Sim!"
E viramos amigas de infância.
Que maravilha, poder falar em português e ser entendida.
O rapaz é professor de uma universidade da Bahia; e a moça, coincidentemente, havia defendido, recentemente, sua dissertação de mestrado no departamento de antropologia da UFSC.

A conferência de abertura foi sobre a sociedade masculina secreta afro-cubana, Abakuá, seguida da exibição de um documentário sobre o mesmo tema. Um dos primeiros trabalhos a serem apresentados foi de uma outra brasileira, coincidentemente, também minha colega da UFSC.

Um professor de Santiago de Cuba, interessado em nossos trabalhos, fez-nos o convite para que os publicássemos na revista da sua Universidade.

No final da tarde, saí com minha mais nova amiga para comprarmos uma "tarjeta" de acesso à internet.Depois, entramos em um hotel para nos conectarmos e mandamos notícias para casa. Muito bom poder entrar, sentar e não ser abordada por nenhum segurança.

Em seguida, andamos um pouco pelo centro de Havana Velha e almoçamos em um paladar super simpático, enquanto um cantor cubano embalava nosso almoço. Sentadas em uma sacada iluminada pela luz do pôr do sol que refletia nos casarões coloniais, comemos comida gostosa, ouvindo música cubana.

Depois, demos uma volta pelas ruas de Havana Velha e minha amiga, que acabara de me conhecer, me deu de presente uma bandeira de Cuba, linda! Recebi, comovida, o presente, pois sentimento a gente comunica, o corpo não consegue aprisionar e rolou, desde nossa primeira conversa, uma afinidade entre nós.

Me chamou a atenção ter no mesmo quarteirão, um hotel sofisticado, uma escola infantil e uma residência de pessoas comuns dividindo o mesmo espaço. Poder andar à noite na rua sem medo de ser assaltada ou sofrer algum tipo de violência também me impressionou. Também percebi o espanto dxs cubanxs quando falava a respeito do racismo no Brasil; que aqui, se morre  pela cor da pele e pelo CEP onde você mora, coisa difícil para um cubanx compreender.

Quando cheguei em casa, depois de conseguir negociar com o taxista (Viva! Mesmo em português), Aurélia quis saber como tinha sido o dia, se tinha dado tudo certo. Seu marido trazia nas mãos um pen driver com músicas do grupo de rap cubano "Los Orishas" para que eu levasse para o menino.

Fui dormir lembrando de Guimarães Rosa: "felicidade se acha é em horinhas de descuido"...



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