quarta-feira, 21 de dezembro de 2016
Cuba: hora de partir...
Acordei com o coração apertado, era hora de partir. Foram poucos dias na Ilha, mas foram dias muito intensos. Tudo deu certo, o Universo conspirou.
Cheguei na sacada do prédio para me despedir da vista. O movimento nas escadarias da Universidade de Havana em homenagem a Fidel, continuava. O sol despontava por sobre Havana Velha. Tudo seguia normal. Xs velhinhxs fazendo tai chi chuan na praça, uma multidão descendo e subindo dos taxis e ônibus a caminho da escola e do trabalho.
Tudo normal, exceto que eu voltaria pra casa, para o golpe, para a perda de direitos, para a minha realidade.
Aurélia chegou para se despedir e pegar as chaves do apartamento.
"-Volte com mais tempo e traga o menino. Ficou tanto ainda por conhecer."
"- Sim!" Prometi, com voz embargada.
Seo Rose já me esperava em seu Lada soviético. Uma tristeza tomou conta de mim, não queria partir...
Desta vez, Seo Rose estava mais conversado, eu é que não queria conversa. Fui fazendo o caminho do aeroporto José Martí e engolindo o choro. Lembrei do poema da Lya Luft:
"Não quero perder o momento belo.
Quero vivê-lo mais, com a intensidade que exige a vida:
desgarramento e fulguração.
Então me corto ao meio e me solto de mim:
a que se prende e a que voa,
a que vive e a que se inventa."
Cortada ao meio, me desprendi de mim e revivi o momento belo: as crianças uniformizadas tendo aulas de educação física no meio da Plaza de las Armas; os jovens e velhos chorando a morte do Comandante; as relações horizontais entre professorxs, alunxs e funcionárioxs do Instituto Cubano de Antropologia; o altíssimo nível educacional e cultural da maioria dos cubanxs com quem conversei; as aulas de história e cidadania que recebi do jovem historiador Iván; as aulas de salsa que recebi de professorxs e estudantes na festa de encerramento da Conferência; o povo da santeria andando pelas ruas com seus trajes brancos e suas guias; a arquitetura colonial de Havana Velha, as casinhas arrumadas com uma estética muito peculiar; a fome de beleza do povo cubano, as letras fortes das raperas feministas cubanas; a ausência de propagando me obrigando a consumir.
Cuba não é para qualquer um não!
No aeroporto, me despedi tomando uma xícara de café cubita, o melhor café que já tomei.
Quando o avião deslizou pela pista, lembrei de um canto dos meus irmãos congadeiros:
"Adeus, terra diferente
Meu coração tá doendo
Nossa senhora que me leve
Pelo mesmo caminho que viemos."
...
Se deus quiser, se deus quiser,
Até para o ano, se deus quiser!"
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