domingo, 25 de dezembro de 2016

Feliz Natal

Não adianta, não tenho vocação para o natal. Em pleno 24 de dezembro, passei o dia cantando "Papai Noel filho da puta", da banda de punk rock, "Garotos Podres":
"Papai noel filho da puta
Rejeita os miseráveis
Eu quero matá-lo
Aquele porco capitalista"
Enquanto o menino ficava escandalizado, "quê isso, mãe!" eu morria de rir, ensaiando um coral com a minha irmã.
O dia todo eu avisei:
"Gente, tem que ir ao supermercado comprar alguma coisa". O menino retrucava:
"Uai, mas e o porco capitalista?"
"Mas não é para fazer ceia, é porque não temos nada para a janta.
"Eu como qualquer coisa. Tem ovo? Eu faço uma omelete";
"Eu também!"
"Então tá"! Desisti.
Mas foi o pernil e o lombo que a vizinha estava assando no seu forno a lenha começarem a cheirar que eles mudaram de ideia, rapidinho.
- "Vamos fazer um churrasco?"
- "Vamos!"
- "Isso! A gente divide. São 300 gramas de carne por pessoa. Somos 4. Compra meio quilo de cada e tá beleza." Meu irmão fazia as contas.
- "Eu não vou na rua comprar". Reclamei.
O menino, facinho, topou ir ao supermercado com a tia. Eu comecei a sonhar com o cardápio: um arroz branco, um vinagrete, aquela linguicinha... Eba! Vamos ter churrasco na lage.
Para minha decepção, menino e tia voltaram com as mãos abanando. Todos os açougues limpos. É muita incompetência junta. Credo! Começaram as acusações:
- "Não foi por falta de aviso. Onde já se viu, decidir fazer churrasco uma hora dessas? Aos 44 do segundo tempo? São quase 9 horas da noite"
- "Azar! Eu vou comer o ovo, já falei"!
Eu, como já é tradicional, aproveitando o pé de acerola carregadinho, fui fazer um suco para garantir meu lado. Enquanto preparava o suco, fazia uma outra versão para a música, "Então é natal", insuportável na voz da Simone:
"Então é natal, e o que você fez
Eu fui pra Baldim, passei fome outra vez."
E rimos, rimos muito da nossa incompetência para fazer grandes ceias.
Para salvar o rango, assei umas mini-pizzas que estavam na geladeira e pronto! De fome ninguém morre. O menino ainda completou com o chocotone que ganhou de natal e que vinha poupando, amarrando mixaria, sofrendo para dividir.
À noite, sentados no quintal, refletíamos sobre o porquê dessa incompetência com o natal. É que nunca cultivamos essa tradição. Não lembro de nenhuma ceia na infância. Lembro sim, do Seo Afonso, namorado da Rosa, filha da Dona Alzira, nossa vizinha, que sempre, nesta época, trazia de BH, brinquedos e balas para distribuir com as crianças da Rua do Campo. Foram várias as vezes que ele salvou nosso natal com bolas e bonecas. Lembro, também, da distribuição de kits com pedaços de queijo e goiabada e pão com salame distribuídos em uma das casas da praça. Perdi a conta de quantas vezes passei horas na fila para depois, sair alegre e serelepe com um daqueles kits na mão.
Não teve ceia, mas teve muita risada e ficamos livres de abraços frouxos e daqueles "feliz natal" da boca pra fora.
Cansada, fui deitar antes da meia noite, mas ainda ouvi os peregrinos de Santos Reis descendo a rua a caminho da igreja para louvar o presépio.

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