sábado, 17 de dezembro de 2016

Sexto dia em Cuba

Terminada a Conferência, eu e Ariele aguardávamos em frente ao Instituto Cubano de Antropologia para irmos para a festa de encerramento, que seria num clube, nos arredores de Havana. Enquanto esperávamos, conversávamos com professorxs e estudantxs cubanxs, trocando contatos e planejando publicações.

Uma professora de estudos sociorreligiosos veio conversar comigo. Apesar d'eu falar em português e ela em espanhol, nos entendemos bem. Ela disse ter gostado da minha apresentação e ter compreendido tudo que falei. Disse que leu o meu trabalho nos anais do encontro e que enquanto lia, conseguia imaginar tudo que eu descrevia. Fiquei muito feliz. 

Planos para 2017: aprender a hablar español.

Depois, enquanto aguardávamos a partida do ônibus, eu e Ariele resolvemos comer uma pizza.  Acabamos nos distraindo com nossas conversas, sempre intermináveis. Quando nos demos conta, o pessoal já tinha partido e saímos apressadas pelas "calles" de Habana Vieja em direção a Plaza de las Palomas. Por sorte alguns participantes ainda aguardavam, pois o transporte seria feito em dois ônibus.

A praça estava cheia daqueles ônibus enormes de turistas com ar condicionado e achamos que iríamos em um deles. Para nossa surpresa, o ônibus verde que estacionou do outro lado da praça e que nos levaria, era um típico ônibus cubano: modesto, como quase tudo em Cuba. Apesar de velho, o ônibus era conservado, com vários de seus assentos remendados, mas de uma forma tão cuidadosa, que parecia um patchwork. Uma pena eu não ter tirado fotos.

O clube era um lugar belíssimo. Na entrada recebemos, grampeados, 4 fichinhas, uma de comida e três de cerveja. O salão estava arrumado com mesas grandes de madeiras e cadeiras de plástico. No palco, um som mecânico tocava música cubana.

Assim que sentamos, o professor Tomás, um estudioso das religiões afro-cubanas, veio sentar conosco, "as brasileñas". Sentou junto, um aluno seu, historiador, funcionário da Biblioteca Nacional de Havana. Também ficou conosco mais uma professora cubana e uma mexicana.

A presidente do Instituto Cubano de Antropologia deu as boas vindas e chamou um representante das delegações para falarem ao microfone. Sugeri que Ariele falasse em nome dxs brasileirxs. Ela começou com "primeiramente fora Temer!" e eu fiz coro, acompanhada pelo professor Tomás, uma das figuras mais interessantes do Congresso. 


Depois que a cerveja começou a fazer efeito, a pista de dança encheu e as pessoas não pararam mais de dançar.

A festa não tinha aquela fartura dos buffet a que estamos acostumados. Como tudo em Cuba, a comida era modesta. Cada participante teve direito a uma marmitinha com um pedaço de bolo, 2 sanduíches e uma coxa de frango, mais 3 latinhas de cerveja. Aliás, uma das coisas que mais ouvi dxs cubanxs, inclusive de um professor universitário que já rodou o mundo, é como nós, brasileiros, desperdiçamos comida.

Nem por isso a festa foi menos divertida. No começo eu fiquei meio tímida para dançar, mas os convites foram  tantos e os professores tão bons que não resisti e arrisquei uns passos de salsa. O salão acabou se transformando em um imenso baile black, no bom estilo "the get down", e eu me senti em casa, mais uma vez. Vendo toda a desenvoltura daqueles corpos que pareciam não se cansar, eu lembrei da frase de Nietzsche: "eu só acreditaria num deus que soubesse dançar".

Me chamou a atenção a forma como todos se relacionavam. Eu nunca tinha visto, num evento acadêmico, principalmente de antropologia, relações tão horizontais. Professores, acadêmicos e funcionários dançavam e se divertiam juntos.

Ali, junto de cubanxs, mexicans, colombianxs, costa riquenhxs, nicaraguensxs, panamenhxs, me senti latino americana, como nunca havia sentido.

Na hora de ir embora, Iván, o historiador da Biblioteca Nacional de Cuba, nos levou até o ponto de ônibus e só descansou depois de nos colocar dentro de um taxi. Antes, porém, nos deu aula sobre Cuba antes e depois da revolução.

Eu e minha amiga combinamos de nos encontrar no dia seguinte na Praça da Revolução para passarmos juntas o meu último dia na Ilha, já que no domingo, eu voltaria pra casa.

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