domingo, 4 de março de 2018

Girassóis

Quando eu fui morar em Baldim, em 2014, era só o tempo de escrever a tese. O tempo foi passando e fiquei por lá três anos e meio. E, embora algumas pessoas não acreditem, eu gostei de morar lá. Gostei muito. Enquanto vivia o estresse da escrita, me angustiava a cada final de tarde quando ouvia a ave-maria no alto-falante da igreja, na hora do angelus. Eu ficava ansiosa porque mais um dia chegava ao fim e a tese não estava pronta. Ia caminhar ouvindo as gravações das minhas conversas sobre a pesquisa que tinha por skype com a minha amiga, Gabina. Mas o fato é que, a tese ficou pronta e foi defendida e não havia mais motivos para ficar por lá, mas fui ficando, arrumando desculpas. Até que o menino deu um basta. Sim, ele agora queria o que eu quis quando tinha a idade dele: a metrópole e tudo que ela oferece. Mudamos há cerca de um mês e eu ainda carrego uma certa tristeza por ter deixado a minha patriazinha. Fico aqui, ressignificando as coisas e buscando alegriazinhas como as que eu tinha por lá. Uma samambaia que dada como morta voltou a brotar, as duas rolinhas chocando seus ovinhos, os pardais que vêm roubar a ração da Fridinha. Enfim... Meu irmão que ficou por lá, me mantém informada das novidades. Ele colheu o milho criolo que nem pude desfrutar e que ficou todo pra semente. Ontem, me mandou foto dos bem-me-queres que semeei pelo quintal. E hoje, mandou foto do girassol, que enfim, se abriu para o mundo. Lembrei do Caio Fernando de Abreu:

"Os girassóis, por exemplo, que vistos assim de fora parecem flores simples, fáceis, até um pouco brutas. Pois não são. Girassol leva tempo se preparando, cresce devagar enfrentando mil inimigos, formigas vorazes, caracóis do mal, ventos destruidores. Depois de meses, um dia pá! Lá está o botãozinho todo catita, parece que já vai abrir."

Nenhum comentário:

Postar um comentário