domingo, 4 de março de 2018

Escola pra quem?

Pegamos um Uber para chegar na hora. O sorteio estava marcado para as 10 da manhã e era necessário a presença do responsável pelo aluno. Quem não estivesse presente perderia a vaga. Chegamos às 9h50 e a sala já estava cheia. Muitos mães, alguns pais, filhos e filhas tensos dentro e fora da sala. 15 vagas para o primeiro ano do ensino médio. O menino vai para o segundo. Cada nome sorteado era cantado várias vezes por uma funcionária, ajudada por pais e mães numa espécie de jogral, até todos terem certeza que o sorteado não estava presente. Mães e pais cujos nomes dos filhos eram sorteados saíam com um sorriso no rosto. Algumas adolescentes choraram a vaga conseguida. Quem não conseguia, ia embora triste e frustrado. Na hora do sorteio do segundo ano, a diretora anunciou que eram 20 vagas para mais de 200 nomes. O número do menino era o 106 na lista de espera. O menino preocupado com a minha pressão arterial me abraçava tentando me acalmar. Não vai chorar agora, mãe. A diretora explicou que com a reforma do ensino médio, muitas vagas foram perdidas por causa do ensino integral. Além disso, a demanda aumentou com uma quantidade considerável de alunos egressos das escolas particulares. A cada explicação, nossa tensão aumentava. O menino gostou da escola desde o primeiro dia que estivemos lá. Na quadra, os olhinhos dele brilharam quando ele viu o grafitte: "Rap é compromisso" e um Luther King com a frase clássica "I have a dream". Mãe, eu não quero criar expectativas porque nunca ganhei nada em sorteio, mas olha, eu gostaria muito de estudar aqui. Uma escola que tem um grafitte do Sabotagem, não tem como não ser legal. Depois do terceiro número sorteado, a diretora resolver contar os presentes. Éramos 24. Ela então decidiu: Quer saber? 4 vagas a mais, 4 vagas a menos... Qualquer coisa, eu faço um puxadinho. Façam uma fila aqui para assinar a ata da reunião e pegar a lista de documentos necessários para a matrícula.
Na mesma hora, chegou um áudio da minha amiga Eda cantando:
"Abracei o mar na lua cheia, abracei
Abracei o mar
Abracei o mar na na lua cheia, abracei
Abracei o mar
Escolhi melhor os pensamentos, pensei
Abracei o mar
É festa no céu é lua cheia, sonhei
Abracei o mar"...
Eu abracei o menino e agradeci.
Odoyá!

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