domingo, 4 de março de 2018

Bom dia pra quem?


Eu não gosto de ir ao centro de BH, me deprime. É assustador o aumento de pessoas em situação de rua e miserabilidade, inclusive idosos. Dia desses, numa tarde fria de chuva, uma senhora aparentando uns 70 anos passou na nossa frente. Carregava um saco com papelão, estava molhada. Nos pés uma sandália de plástico e meias encharcadas. Troquei olhares com o menino. Mãe, ela não deveria estar aqui. Tinha que estar num lugar quentinho, sendo servida por alguém, tomando um prato de sopa e parafraseou Racionais: podia ser a minha vó, que loucura! Hoje, quando entramos no Banco do Brasil, duas senhoras negras na porta. Uma nos disse, na volta você me ajuda, minha filha? Eu, sentindo um bolo na garganta acenei afirmativamente num movimento com a cabeça. Você vai ajudar, né, mãe? Na saída o menino comprou um tridente com a que vendia balas. Eu, dei minha contribuição à outra. O menino, já sentindo a minha comoção, me abraçou apertado e foi cantarolando: uma negra e uma criança nos braços solitária na floresta de concreto e aço. Esperei ele entrar no ônibus, de onde foi para o dentista. Antes de subir ele brincou, você vai me abandonar? Depois me abraçou e disse: eu te amo, mãe. Ainda o vi cedendo lugar para um senhor e uma senhora entrarem antes dele. Depois que ele entrou, coloquei meus fones e segui para meu compromisso, com Mano Brown cantando em meus ouvidos: essa porra é um campo minado...
Bom dia, pra quem?

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