Amanhã tem "Fora Temer". Tô com vontade de ir. Se for, terei que
pegar o ônibus das 6 da manhã e enfrentar 3 horas de viagem, porque o
ônibus desse horário é daqueles pinga-pinga que vai parando de dois em
dois minutos. Um trecho do percuso é em estrada de chão e com o tempo
seco do jeito que está, a estrada está que é poeira, só.
Tô
achando tudo tão calmo. Na minha TL só dois ou três chamaram para a
manifestação. Os movimentos sociais e os partidos estão silenciosos
demais ou é impressão minha? Enquanto
isso, o desmonte não para. Em momentos assim é preciso um esforço
sobrenatural para não perder a esperança. A concreta, que é tão frágil
quanto a abstrata, o bichinho verde.
Em tempos assim, Saramago ensina que precisamos embalar a esperança no
colo. Nessas horas lembro sempre do conto da Clarice: "Precisamos
facilitar o caminho da esperança", ela nos diz. A casa precisa estar
limpa, precisamos arrastar os móveis, limpar a parede atrás dos quadros.
Nada pode ameaçar a esperança, esse bichinho magrelo e frágil. Vai que
surge uma aranha e a devore.
E as notícias ruins seguem, uma
atrás da outra. Eu nem leio mais, pois como a mulher do conto da Adélia,
"tou com medo de apanhar tristeza, encardir de melancolia. Sei que
sofrimento neste mundo é fazenda de todos. Mas tendo Justiça, meu Deus,
ao menos miséria some, ao menos ninguém vai ter susto de ser preso à
toa, de apanhar sem poder dizer essa boca é minha, explicar, de pé feito
um homem, se tem culpa ou não." Mas cadê justiça?
Como a
narradora do conto, eu não sei o que fazer, nem como ajudar. A
impotência toma conta de mim. Tô me sentido como a galinha na chuva. Já
viu que dó? Aquele passo bobo, aquele pescoço esticado pra frente, olha
aqui, olha acolá, encharcada na friagem e na lama, sem resolver nada e,
pior que tudo, sem saber de nada.
Por isso, hoje, eu passei o
dia na faxina. Limpei toda a casa, arrastei os móveis para deixar tudo
limpo, para que nada atrapalhe o caminho da esperança, para que ela não
seja ameaçada por nenhuma aranha. Porque desesperança e descrença é um
troço ruim demais de sentir
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