quinta-feira, 28 de julho de 2016

Mérito ou privilégio?

A semana que passou foi intensa. Começou com visitas chegando. Minha sobrinha, que lembro pequeninha, veio com os filhos. É sempre uma emoção recebê-la. Fico sempre muito comovida com a forma como ela conduz a própria vida. Começou a trabalhar aos 9 anos, ajudando os pais a cuidar de casas de campo na região metropolitana de BH.
- "Aos 9, já dá para rastelar umas folhas, tia"
Depois quis receber seu próprio dinheiro, foi ser doméstica. Trabalhou sem carteira assinada até os 22 anos.
Agora, aos 31, casada, mãe de 2 filhos conseguiu voltar a estudar. Está no 7º período do curso de Direito. A mãe a ajuda com os filhos. Marido também. Fez concurso em escola pública para trabalhar meio período para conseguir conciliar a jornada tripla. Trabalha pela manhã, cumpre as obrigações de mãe, esposa e dona de casa à tarde e estuda à noite. Enquanto esteve aqui, não parou um minuto:
"Quer leite ou café? Já escovou os dentes? Vem almoçar! Larga esse celular! GTA, não! Já falei que não pode. Pede desculpas para a sua irmã. Vou ter que ir aí, buscar pela orelha?"
Mãe mais zelosa e amorosa nunca vi. Até no ralhar com os filhos, no colocar os limites, no dizer "não".
Ela me contou que dia desses, um professor, desses novinhos que só estudou a vida toda, já com mestrado e doutorado, chegou em sala, olhou para xs alunxs e disse:
"vocês são burros. Pela cara já dá para perceber que demoraram a entrar na faculdade. Se pensam que terão sucesso numa carreira jurídica, esqueçam! Isso é para quem começa cedo"
Fiquei pensando até onde é mérito, e até onde é privilégio.

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