segunda-feira, 27 de junho de 2016

Sambar na corda bamba

A semana que passou foi intensa. Completei 50 anos na quinta feira, dia 23, e como em todo aniversário, foi dia de reflexão. Ganhei de presente a visita da minha amiga, Carmen, que não via há algum tempo. Tê-la aqui, comigo, sentada à mesa, com a janela-azul-de-tramela ao fundo, mudando a minha a paisagem, amplificou ainda mais os sentimentos. Passei o resto da semana revivendo o momento belo que foi a sua visita e digerindo as emoções que a conversa trouxe à tona. No sábado, o dia começou com o anúncio da morte da Dindinha Maria. Casada com o irmão de mamãe, Dindinha ajudou a criar todos nós. Fui ao velório, quis me despedir. Quando a moça que rezava o terço perguntou se alguém queria falar alguma coisa, emocionada, entre choro, contei da minha gratidão a essa mulher generosa que acolhia todo mundo em sua casa. Me disseram que o papagaio dela continua lá, na cozinha, a chamar por ela: "mãe, mãe, ô mãe"... Ontem, fiquei sabendo da morte de Bárbara Rosa, moça jovem, cheia de vida que acompanhava o cantor Liniker. Descobri Liniker há alguns meses e virou inspiração pra mim. Gosto de sua música preta, mas gosto ainda mais de sua atitude lacradora: "ninguém vai me tombar, não!", ele diz. Segundo ele, ao menor sinal de ameaça, ele passa logo três batons e se empodera ainda mais. Há uns dias atrás, ouvi Bárbara no Programa Metrópolis. Quando a apresentadora, Adriana Couto, perguntou aos integrantes do projeto "Salada das Frutas" (Liniker, As Bahiana e a Cozinha Mineira e Tássia Reis) sobre o sonho de cada um deles, Bárbara respondeu que o dela era cantar com Criolo. Não deu tempo. Morreu na madrugada de domingo, tão jovem, aos 21 anos. No sábado, quando fui ao cemitério no enterro da Dindinha, andei por entre os túmulos, lembrando dos entes queridos que foram enterrados ali: mamãe, papai, vovó, vovô, dindinha... A certeza da vida é a morte, mas vivemos como se não fôssemos morrer nunca. Ir a um velório ou a um enterro nos ajuda a refletir sobre a fragilidade do que somos. Ajuda a pensar que estar vivo é uma dádiva, e por isso, hoje, tem esse nome: presente. Com as emoções em turbilhão, comecei o dia lendo Cecília Meireles:
"Tu tens um medo:
Acabar.
Não vês que acabas todo o dia.
Que morres no amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que te renovas todo o dia.
No amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que és sempre outro.
Que és sempre o mesmo.
Que morrerás por idades imensas.
Até não teres medo de morrer.
E então serás eterno."
Bárbara não conseguiu realizar um de seu sonhos que era cantar com Criolo, mas realizou outros. Então, bora tentar realizar o nosso sonho, hoje. Porque amanhã, ninguém sabe. E como Bábara cantava com o "Salada de Frutas": "boto o salto e vou pro mundo, nessa corda bamba, sambar!"
Bora, subir no salto, passar o batom vermelho e lacrar o dia de hoje!

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