A semana que passou foi intensa. Completei 50 anos na quinta feira,
dia 23, e como em todo aniversário, foi dia de reflexão. Ganhei de
presente a visita da minha amiga, Carmen, que não via há algum tempo.
Tê-la aqui, comigo, sentada à mesa, com a janela-azul-de-tramela ao
fundo, mudando a minha a paisagem, amplificou ainda mais os sentimentos.
Passei o resto da semana revivendo o momento belo que foi a sua visita e
digerindo as emoções que a conversa trouxe à tona. No sábado, o dia
começou com o anúncio da morte da Dindinha Maria. Casada com o irmão de
mamãe, Dindinha ajudou a criar todos nós. Fui ao velório, quis me
despedir. Quando a moça que rezava o terço perguntou se alguém queria
falar alguma coisa, emocionada, entre choro, contei da minha gratidão a
essa mulher generosa que acolhia todo mundo em sua casa. Me disseram que
o papagaio dela continua lá, na cozinha, a chamar por ela: "mãe, mãe, ô
mãe"... Ontem, fiquei sabendo da morte de Bárbara Rosa, moça jovem,
cheia de vida que acompanhava o cantor Liniker. Descobri Liniker há
alguns meses e virou inspiração pra mim. Gosto de sua música preta, mas
gosto ainda mais de sua atitude lacradora: "ninguém vai me tombar,
não!", ele diz. Segundo ele, ao menor sinal de ameaça, ele passa logo
três batons e se empodera ainda mais. Há uns dias atrás, ouvi Bárbara no
Programa Metrópolis. Quando a apresentadora, Adriana Couto, perguntou
aos integrantes do projeto "Salada das Frutas" (Liniker, As Bahiana e a
Cozinha Mineira e Tássia Reis) sobre o sonho de cada um deles, Bárbara
respondeu que o dela era cantar com Criolo. Não deu tempo. Morreu na
madrugada de domingo, tão jovem, aos 21 anos. No sábado, quando fui ao
cemitério no enterro da Dindinha, andei por entre os túmulos, lembrando
dos entes queridos que foram enterrados ali: mamãe, papai, vovó, vovô,
dindinha... A certeza da vida é a morte, mas vivemos como se não
fôssemos morrer nunca. Ir a um velório ou a um enterro nos ajuda a
refletir sobre a fragilidade do que somos. Ajuda a pensar que estar vivo
é uma dádiva, e por isso, hoje, tem esse nome: presente. Com as
emoções em turbilhão, comecei o dia lendo Cecília Meireles:
"Tu tens um medo:
Acabar.
Não vês que acabas todo o dia.
Que morres no amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que te renovas todo o dia.
No amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que és sempre outro.
Que és sempre o mesmo.
Que morrerás por idades imensas.
Até não teres medo de morrer.
E então serás eterno."
Bárbara não conseguiu realizar um de seu sonhos que era cantar com
Criolo, mas realizou outros. Então, bora tentar realizar o nosso sonho,
hoje. Porque amanhã, ninguém sabe. E como Bábara cantava com o "Salada
de Frutas": "boto o salto e vou pro mundo, nessa corda bamba, sambar!"
Bora, subir no salto, passar o batom vermelho e lacrar o dia de hoje!
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