domingo, 26 de novembro de 2017

O encontro parte II

Que é que a gente sente, quando se tem medo?" O menino perguntou. "Você nunca teve medo?" foi o que veio à cabeça de Riobaldo. "Meu pai disse que não se deve de ter", o menino respondeu. A tremura de Riobaldo enchia o menino ainda mais de coragem. E ele pôs a mão sobre a de Riobaldo, um mão de dedos delicados e ficaram assim, um fazendo parte da pele do outro. O menino mandou o canoeiro encostar, ordenou que tomasse conta e seguiu com Riobaldo no meio do capim. Conversando pouco, dividiram queijo e rapadura. Riobaldo acanhado, com vergonha de suas roupas, comparando-as com o menino. Um outro rapaz surgiu de repente, por ali, viu os dois, e maldando disse: "Vocês dois, uê, hem?! Que é que estão fazendo?..."Hem, hem, E eu? Também quero!" Insistiu. Riobaldo amedrontado, falava alto contestando que não estavam fazendo sujice, que estavam era espreitando as distâncias do rio e o parado das coisas. E o menino, sem demonstrar espanto, com seu sorriso, permaneceu sentado e imitando voz de mulher, disse ao rapaz: "Você, meu nego? Está certo, chega aqui..." E o rapaz, satisfeito, sentou juntinho. Imediatamente, pulou pra trás, deu um grito e varou o mato em fuga. Sem aluir do lugar, o menino limpava a lâmina de sua faquinha no capim, com todo capricho e a guardou na bainha dizendo: "Quicé que corta..." Riobaldo se apavarou ainda mais, com medo do rapaz buscar companheiros, foice, garrucha e voltar. Quis sair logo dali, ir embora. "Carece de ter coragem. Carece de ter muita coragem", o menino respondeu, gentil. E vagarozinho, sem olhar pra trás, sem medo, andou até a canoa. "Você é valente, sempre?" Riobaldo perguntou. "Sou diferente de todo mundo", o menino respondeu. E Riobaldo não tinha medo mais.
"Muita coisa importante falta nome".

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