domingo, 26 de novembro de 2017

Grande Sertão: Veredas

Estou aqui, com o livro "Cartas perto do coração" de correspondências trocadas entre Clarice Lispector e Fernando Sabino. Em 6 de maio de 1946, Fernando escreve a Clarice falando de Guimarães Rosa: "Outro dia saiu um novo livro que está fazendo furor, é o termo. Vocês até possivelmente já ouviram falar, pois é do Chefe do Gabinete do Itamarati, o Guimarães Rosa. Chama-se Sagarana, livro de contos, muito bem escrito, misto de Monteiro Lobato, Cyro dos Anjos, Euclides da Cunha e Mário de Andrade, entenda se possível. Todo mundo está deslumbrado, Álvaro Lins "descobriu-o" e "consagrou-o". Gostei do que li, é realmente uma perfeição de linguagem e expressões do interior de Minas, os diálogos principalmente muito bons, mas não é o meu gênero e penso que você também não gostaria."
Dez anos depois, em carta de julho de 1956, Fernando escreve outra vez sobre Guimarães: "O melhor de tudo, porém, é o livro do Guimarães Rosa, não o Corpo de Baile, que não li, mas o Grande Sertão - Veredas, que estou na metade e é obra de gênio, não deixo por menos. Adeus, literatura nordestina de cangaço, zélins, gracilianos e bagaceiras: o homem é um monstro para escrever sobre jagunços do interior de Minas e com uma linguagem que nem Gil Vicente, nem ninguém. Meu entusiasmo é de quem não terminou a leitura, pode ser que não se sustente, mas duvido. Se recebeu, leia - senão, me diga que mando. No princípio, dez primeiras páginas, é meio assim-assim, custa um pouco a engrenar, mas de repente a gente se embala no ritmo dele e não larga mais."
Dois meses depois, em carta de setembro, Fernando insiste com Clarice: "Você não falou nada sobre o Guimarães Rosa do Grande Sertão - leu? Continuo achando apenas o maior romance já publicado no Brasil - mas isso também é uma longa conversa."
No mês seguinte, em carta de outubro, Clarice responde: "Não, ainda não li o livro do Guimarães Rosa, mas vou pedir lá em casa que me mandem."
E em dezembro de 1956, Clarice envia uma carta ao amigo, toda ela falando de Grande Sertão: Fernando, estou lendo o livro de Guimarães Rosa, e não posso deixar de escrever a você. Nunca vi coisa assim! É a coisa mais linda dos últimos tempos."...

Nenhum comentário:

Postar um comentário