domingo, 8 de janeiro de 2017

Viva Santos Reis

Desta vez não deu para encontrar com tia Mariinha, que por conta de um compromisso, não ficou para o remate. Uma pena! É sempre muito bom compartilhar das histórias e do bom humor da irmã mais velha de papai. Hoje, com 94 anos e uma lucidez e energia de fazer inveja a muito jovem.
Como passamos pelo Guará para cobiçarmos a casa sede da fazenda onde papai trabalhou como meeiro, nos atrasamos. Mas ainda deu tempo de encontrarmos com tio João e vários primos e primas.
O povoado de Santo Antônio do Baú, município de Jequitibá, começou a partir da partilha de terras entre as irmãs Maria Rosa (minha bisavó), Madalena e Teresa, filhas da minha tataravó, Filomena, "negra cativa", que ganhou cerca de 30 hectares de seu proprietário. A folia de reis do povoado foi fundada há 67 anos, entre outras pessoas, por meu pai e meu tio.
Nos distraímos com o café, bolo e biscoitos servidos na varanda da casa do primo Dico, e desta vez, perdemos o "backstage" do ritual. É sempre bom, ver os foliões se reunindo, afinando os instrumentos no QG, sediado na casa do Seo Zé Gomes.
Pegamos a folia a caminho da capela. Antes de iniciar o ritual, a reverência à bandeira. Em volta da capela uma multidão aguardava. Gente de toda a região. O espaço demarcado estava enfeitado com bambus e bandeirinhas. Na cozinha, anexa ao salão onde acontecem as danças, homens e mulheres já estavam a postos para servir a comida. Por várias vezes vi meu tio João, 81 anos, com os olhos marejados. Meu irmão também suspirava fundo engolindo o choro. Eu, mulher de pouquíssima fé, fico comovida até as lágrimas com a devoção desse Brasil profundo.
Depois do ritual das rosas, onde os três reis magos reverenciaram a Sagrada Família, ainda teve adoração ao presépio dentro da capela. Depois, já fora da igrejinha, fomos todos para o salão, construído ao lado da capela para um dos momentos mais esperados: o lundu. Um momento de muita emoção foi quando a caravana cantou para os falecidos. Seo Zé Gomes, de joelhos, reverenciando a memória dos que já se foram.
Depois foi servido o banquete coletivo. Isso é das coisas mais interessantes das festas populares: sem área vip, sem seguranças, sem PM's, onde todo mundo que chega come, e bem! Feijão tropeiro, arroz, carne cozida com batata, refrigerante e sobremesa, porque na cozinha mineira não pode faltar doce. Há 67 anos, cumpre-se o mesmo ritual. Eu fico muito orgulhosa em saber que tudo isso teve início com meus ancestrais, principalmente minha tataravó Filomena, minha bisa, Maria Rosa, meu pai, Seo Zezinho e que, de alguma forma continua no sentimento que nutrimos (eu, minha irmã, Luia e meu irmão, Zezé) pelos peregrinos dessa Caravana de Santos Reis!
Em tempos de barbárie eu me comovo ainda mais com a fé, a devoção e a solidariedade desse Brasil profundo.
Viva Santos Reis!
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