segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Tupac

"Mãe, vou colocar os fones, tá?" Normalmente, quando o menino diz isso, estamos juntos no ônibus no caminho Baldim/BH ou em direção ao centro da capital e significa que ele está se desligando do mundo. Se eu quiser falar com ele, preciso cutucá-lo. Do contrário, falarei sozinha. Mas desta vez foi diferente. "Mãe, escuta esta música aqui" e me ofereceu um dos fones de ouvido. Rolava "All Eyez on me", do Tupac. Eu me ajeitei no ônibus lotado do move, de modo a continuarmos partilhando os fones. Quando terminou, pedi a ele que colocasse "Califórnia Love", uma das minhas preferidas. O sample da música é "Woman to Woman" do britânico, Joe Coker, um roqueiro branco influenciado pela "soul music". Isso eu não sabia, fui pesquisar depois. Naquele momento, no ônibus lotado, eu procurei me equilibrar de modo a não perder aquela horinha de descuido. Depois, já sentados no segundo ônibus, ele me contou sobre a treta entre Tupac e Notorious Big e a rivalidade entre a costa leste e a oeste americana. Falou de mil referências, todas desconhecidas pra mim. "Ah, mãe, é que nessa época você ouvia Milton Nascimento." Eu ri e completei: "É verdade, só ouvia Clube da Esquina." E fiquei ali, quietinha, ouvindo uma aula sobre a história do rap. Depois ele colocou "Jezebel", com um remix da Sade Adu. Aí, foi a minha vez de ensinar. Falei da nigeriana que fez tanto sucesso na década de 1980. "Jezebel" do Tupac fala da mãe, Afeni Shakur, que fez parte dos "Panteras Negras". A ativista escolheu o nome do filho em homenagem ao imperador inca, último líder indígena a ser capturado e morto pelos colonizadores espanhóis. Você pode, por uma questão estética, até não gostar de rap, mas olhe, o que os jovens aprendem nas letras é muito mais que muita aula de história consegue ensina

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